A atractividade de uma vida, por Catarina Almeida Ontem enquanto almoçava calmamente com as minhas simpáticas colegas, dei de caras com a seguinte cena… No tempo de brincadeira livre, enquanto os mais pequenos dormiam a sesta, as crianças de cinco anos estavam a preparar um teatro. Tinham vários adereços que pareciam mantos e véus, um bebé de brincar e a mais afoita dava ordens. Aos Reis magos dizia: – Não, vocês vêm de longe! Aos pastores, indicava: – Tu não és aí, tens que estar com ar de quem vem com pressa! Nem o São José escapava: – E tu, tens que estar a olhar para o bebé! Tens que tomar conta dele! Ela estava a falar com os Reis magos, com os pastores e com São José como quem sabe exactamente o que aconteceu naquele misterioso instante em que Deus se fez Menino e veio habitar na nossa miséria. Nem os animais foram esquecidos. A mais nova das crianças gritava ao lado do Menino Jesus “e não se esqueçam de mim, eu sou a vaca ou o burro!” e não saía de ao pé do São José e do Menino Jesus. Até esta simplicidade das crianças de quererem só admirar, fazer companhia, confortar e adorar nos comove, foi isto que ela quis ser naquela hora de almoço. É certo que têm passado os últimos dias a preparar a festa de Natal. É certo que é uma escola católica e que o ar de Natal invade as nossas vidas – graças a Deus. É certo que somos filhos de uma tradição que ainda tem referências culturais da maior aventura de todos os tempos, que tem os traços da história da Salvação. Mas não podemos achar este episódio só querido e amoroso. Claro que conhecem a história do Natal e que as brincadeiras das crianças se identificam com os ambientes que lhes proporcionamos. Só que isso relembra a nossa enorme responsabilidade educativa. Tudo o que pusermos diante da vida dos mais pequenos, será inevitavelmente o ar que respiram. Tudo o que concordarmos em critérios e propostas será o enquadramento em que as crianças farão as suas escolhas, tão simples e banais como a brincadeira da hora de almoço. Os adultos não estavam a olhar, o tempo era deles e podiam fazer o que quisessem. Estas crianças de cinco anos, de contextos variados e diversos, escolheram brincar ao Presépio. E isso comove-me. Neste mundo cheio de confusão, contradição e violência, há miúdos que decidem usar o seu tempo livre para se identificar com a única verdadeira hipótese de felicidade. Estes miúdos reconhecem no Deus Menino a atractividade de uma vida mais verdadeira. Isso, só isso, traz esperança ao mundo. Catarina Almeida