A novidade que só o Amor conhece, por Catarina Almeida

– Oh! Meu paizinho! Finalmente encontrei-o! Agora nunca mais o deixo, nunca mais, nunca mais!

– És mesmo tu, o meu querido Pinóquio?

– Sim, sim, sou eu mesmo! E o paizinho já me perdoou, não é verdade? – começou assim o boneco a contar ao Pai tudo o que lhe tinha acontecido desde que se tinham separado.

Finalmente! Encontraram-se! O Pinóquio reencontrou o seu pai, Gepeto, e decidiu nunca mais o deixar, “nunca mais, nunca mais”!

Meses e meses de tropelias e tristezas causadas pela sua indomável vontade de correr atrás das borboletas. Tinham passado cerca de dois anos e tudo parecia perdido. Mas não.

Ao ver o seu pai, qual é o sentimento que domina no coração do Pinóquio? A vergonha? Não. O facto de ter desiludido o pai? Também não. A comiseração e a autojustificação? Nem pensar.

E o paizinho já me perdoou, não é verdade? – começou assim o boneco a contar…

Sem esperar pela resposta, Pinóquio lança-se no relato dramático da sua vida desligada da Vida do pai: o Gato e a Raposa que o enganaram, o Dono do Circo que o tratou com violência e desprezo, os dias passados na Terra dos Brinquedos que o transformaram num burrinho… Tantos episódios, sempre a mesma tentação de viver segundo a própria medida, segundo o próprio instinto. O que descobriu o boneco de madeira? Que a aparência de uma existência sem nenhuma tarefa traz consigo a mais dramática de todas as possibilidades: a tristeza infinita.

A verdade é que o Pinóquio não descobriu isto por força de raciocínios mais perfeitos ou elaborados, não. Foi sempre o seu grito rasgado a chamar por alguém que o salvasse. Que o resgatasse. E foi sempre a Fada Azul, com cabelo cor do céu, que o conduziu até àquele grande encontro.

No coração do Pinóquio, domina sim a consciência de ser filho e, por isso, perdoado. Nem espera pela resposta. Ele sabe que o pai já o perdoou porque é esse o significado daquele ser Pai: o reencontro com o filho é sempre novo, é sempre feito da novidade que só o Amor conhece.

Aos nossos filhos e alunos, dizemos muitas vezes que primeiro têm de se corrigir, primeiro têm de mudar, para depois nós os aceitarmos. Nada mais errado. Para mudar, para fazer coisas boas e bonitas, é preciso estar muito felizes. E só estarão felizes como o Pinóquio se puderem olhar para nós e alimentar-se da certeza de que os amamos sem condições.

Catarina Almeida