Abaixo os muros!

Temos vindo a construir muros à volta de casa, da família nuclear e alargada, da escola, do trabalho, dos grupos de amigos, à volta de nós próprios. Estão por todo o lado! Vivemos numa rotina cercados de barreiras que erguemos sobretudo pelo medo da diferença, medo de falhar, medo das reacções das pessoas e da opinião pública, medo da instabilidade,  medo de sofrer, medo de amar sem muros!

Cada um com o seu talento – porque nem todos são chamados a fazer o mesmo – tem que os ir derrubando ou, pelo menos, impedir que se ergam. Estes muros isolam-nos uns dos outros e fazem com que a Luz não entre da mesma forma. Os muros trazem sombra e se já não temos mais espaço para eles chega mesmo a ser tentador construir um telhado, não vamos nós ou os nossos ficarem expostos ao perigo. Chegando a este ponto, instala-se a escuridão total.

Devíamos viver sem medo. E se por acaso este aparecer? Avançamos com medo mas o muro vai abaixo e a Luz acabará por iluminar o terreno todo.

Há dois meses voltou a esta casa e insiste em ficar por aqui. Às vezes estraga-me a noite, outras vezes só a sesta mas o medo apoderou-se sobretudo do Pai, da Mãe e da filha mais velha desta família perante a proposta de acolher mais um bebé recém-nascido cuja história, ainda que curta, é para lá de complexa. Enquanto a nossa filha ficou pelo medo de sofrer no dia em que esta criança nos deixar, nós tivemos medo de não ser capazes, de não ter energia, espaço e tempo, medo de nos deixar consumir por uma história que não é nossa, medo de não ter conhecimentos à altura para lidar com tamanha complexidade, medo de conhecer quem o virá buscar a esta casa para sempre. Mas o nosso sim não é sinal de loucura nem de heroicidade, como ouvimos tantas vezes. Apenas impede que um muro se erga à volta desta casa e é dado com compromisso e responsabilidade porque queremos viver num mundo onde o medo é real, mesmo muito real, mas não nos isola, não nos guia nem nos controla!

Sofia Bilbao