Aceita o desafio?

Sente-se.

Imagine que neste preciso momento é confrontado com um enorme desafio que vai mudar a sua vida. Desafio esse que pode ser, ou não, capaz superar. O cenário de derrota não implica a sua morte, esteja descansado, mas mesmo que se aplicasse tal regra de desfecho, o conteúdo do desafio seria o mesmo. Aliás, para os mais corajosos, vamos abrir essa excepção. A morte, na realidade, é uma certeza da vida.

Está preparado?

Aparece um anjo. Sim, um anjo. Porque não? Quem não acredita em anjos – repito, gostaria que que o cenário fosse o mais real possível – pode optar por não se sujeitar a este desafio, levantar-se (visto que estava sentado) e ir embora sem ler isto até ao fim.

Se continuou a ler e não desistiu, fez bem! O anjo acaba de lhe dar opção de passar à frente, de fazer um “fast-forward”, de atingir o objetivo sem que isso implique da sua parte qualquer esforço, comprometimento ou mesmo qualquer ato de valentia e bravura. No fundo, metaforicamente, é-lhe dada a oportunidade de atingir o cume do Evereste sem ter de o subir ou, usando outras palavras, a sua equipa ganha o campeonato sem ter de jogar um único jogo.

É isso que deseja para si? Objetivo atingido! Ganhou, pode festejar!

Às vezes dou por mim a refletir sobre esta possibilidade de conseguir chegar à meta sem ter de me esforçar. Acontece. Conhecemos todos muito bem o sabor da vitória e queremos lá chegar depressa. Mas, pensando bem (às vezes é bom parar para pensar), as vitórias mais saborosas são aquelas que nos custam mais, que implicam suor e só essas nos fazem crescer verdadeiramente como Homens. Citando Rainer Marie Rilke, essas vitórias “vão até ao mais profundo de nós mesmos”. De facto, obrigam a uma descoberta pessoal dos nossos limites, dos nossos valores e do que na verdade somos e resultam numa beleza que só é a mesma se for dolorosa. O medo de perder faz-nos crer que vale a pena saltar alguma etapa e assim chegar mais rapidamente à meta.

Muitas vezes não temos o discernimento suficiente para perceber que não somos definidos pelo epílogo mas sim pela forma como atravessamos as estradas que nos são impostas. Acredito piamente nisto; se percorrermos o caminho de forma adequada, com coerência e valentia, é mais provável chegarmos à vitória de forma mais sustentada embora, feitas as contas finais, não esteja tudo só dependente do nosso esforço.

Ao ler o Elogio da Sede, do Padre Tolentino Mendonça, que fala do desejo que o nosso coração tem de ser saciado, encontrei um excerto Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry:

– Olá, bom dia! – disse o principezinho.

– Olá, bom dia! – disse o vendedor.

Era um vendedor de comprimidos para tirar a sede. Toma-se um por semana e deixa-se de ter necessidade de beber.

– Porque é que andas a vender isso? – perguntou o principezinho

– Porque é uma grande economia de tempo – respondeu o vendedor. – Os cálculos foram feitos por peritos. Poupam-se cinquenta e três minutos por semana.

– E o que se faz com esses cinquenta e três minutos?

– Faz-se o que se quiser…

“Eu”, pensou o principezinho, “eu se cá tivesse cinquenta e três minutos para gastar, punha-me era a andar devagarinho à procura de uma fonte…”

Como diria o meu amigo José Pedro Cobra: “Querem jogar? Ou querem ganhar?

Francisco Guimarães