Alguém nos prometeu alguma coisa?

Há dias em que nada corre como gostaríamos…

Estamos a trabalhar com os miúdos e começa a chover dentro da sala; tínhamos uma reunião importante com a nossa chefe que muda de ideias e de prioridades; tínhamos preparado o almoço impecavelmente pensado para não dar facadas na dieta e deixámos a marmita em cima da mesa da cozinha… Peripécias caricaturadas, claro, mas o meu dia é sempre feito desta tensão entre a minha ideia (boa!), o meu projecto (óptimo!), a minha pretensão (justa!) e… o que acontece!

Vejo-me tantas vezes qual Golias a lutar arduamente para levar avante a minha ideia ou o meu projecto contra tudo e contra todos… Normalmente, o resultado é que fico ainda mais furiosa. Claro que a alternativa a isto não é ser passivamente indiferente ao que acontece porque daí vem apenas apatia e aborrecimento.

A trabalhar com educadoras e professores, tenho descoberto que é muito diferente quando a minha ideia se torna uma hipótese a verificar, a submeter ao crivo da experiência e da realidade, ao que “houver”. Às vezes, tenho a tentação de achar que isto é uma espécie de second best, uma resignação do tipo “já que não pode ser como eu quero, assim também dá…”. No entanto, a verdade é que a vida se torna uma aventura muito maior quando queremos ver o que acontece como resposta ao que desejamos… Uma música pensada de uma maneira, se eu estiver à espera de ver o que acontece, pode-se tornar um teatro espetacular; uma história banal no tapete, pode-se tornar um diálogo sobre as coisas mais importantes da vida; uma escola normal, pode-se tornar um lugar incrível de descoberta.

«Alguém nos prometeu alguma coisa? Então, por que esperamos?» é uma frase que esta semana não me sai da cabeça. A promessa que a vida traz acontece inesperadamente em cada minuto do dia; não acontece num futuro próximo nem é recordação de um passado remoto. Joga-se tudo agora e, por isso, esperar, desejar, idealizar não é uma ingenuidade de quem ainda acredita na felicidade. Não.

Esperar que as coisas se mostrem é a única maneira que eu conheço de trabalhar alegre e activamente, porque passo o dia a querer ver como é que o Mistério faz as coisas que eu lhe entrego. As ideias que lhe entrego, os projectos que lhe entrego. E se querem ver o resultado desta maluqueira, venham ver o Open Day da Escola no Chiado, onde tentamos todos os dias trabalhar assim…

Catarina Almeida