And so it begins…

– Professora, posso-lhe escrever uma mensagem em código?

– P…odes. Mas em código?

Uma mensagem em código? Já é tão difícil perceber os sinais que as crianças nos enviam com as suas mil linguagens e formas de comunicação, o que lhe haveria de passar pela cabeça?

– Sim, em código! Eu dou-lhe um código e uma mensagem. Depois, a professora tem de descobrir o que está lá escondido.

Outra professora tinha proposto um desafio matemático. Os alunos entusiasmaram-se com a aventura e lá desvendaram o misterioso conteúdo: a matemática é espetacular. Risos e palmas, the end. Mas afinal não era the end. Pelo menos para o João.

Aquela professora tinha acabado de o introduzir à possibilidade de se expressar de uma forma nova e pouco imediata. Que lhe dava a oportunidade de trocar letras por símbolos, de forma a que os seus futuros interlocutores tivessem de dedicar tempo e cuidado a compreender bem o que tinha a dizer. Uma novidade, uma ocasião de aprofundar o raciocínio e a expressão. E o João ficou radiante ao ponto de querer dar continuidade àquela aprendizagem.

Pensou ele numa mensagem, pensou ele no interlocutor. Decidiu ser ele protagonista e implicar-se pessoalmente na tentativa. É realmente espantoso reparar que um gesto de educação verdadeira não tem um the end, mas é antes um diálogo permanente e vivo entre nós (crianças e adultos) e aquilo que verdadeiramente interessa: a realidade.

Na escola, cabe-nos atender e obedecer a esta exigência, que podemos definir em três passos. Primeiro, que os alunos – qualquer que seja a idade – façam experiência de toda a potencialidade de compreensão do mundo que eles próprios são, dando-se conta disso. Eu sou capaz de decifrar um código. Depois, compreendam bem os nexos e as implicações entre o que descobrem e o que já conhecem. Finalmente, que se lancem e se reapropriem num juízo crítico.

Sabem o que dizia a mensagem do João? O português é fabuloso. E só aqui me dei conta da potência de um episódio simples como este, que qualquer professor poderia contar. Um aluno do 2º ano escolheu um código matemático para manifestar o seu fascínio com a língua portuguesa! É que de repente toda a realidade se torna interessante porque ele sabe que pode desvelar os códigos e as mensagens aí escondidas à sua espera…

No fundo, a escola não tem the ends; a escola traz sempre consigo um verdadeiro beginning!

Catarina Almeida