As fadas também perdem a cabeça…

Estava uma fada a começar uma aula e um habitante do reino começou a prevaricar…
Este habitante estava muito triste e, para se distrair da sua tristeza, começou a fazer disparates que fizessem rir, a ele e aos outros. Não era aquele rir bom, que enche o coração e faz soltar gargalhadas de riso feliz. Não. Era aquele rir que desdenha, mesquinho, que serve só para distrair e fazer figura.

A fada começou a ficar nervosa porque o tempo era breve e aquela lição era crucial: iam aprender como é que as fadas voam! Tinha preparado uma bela apresentação, bons exemplos, exercícios de verificação e uma síntese bem organizada.

Cada vez que começava a explicar, o prevaricador voltava à carga… Risos e mais risos mesquinhos e ninguém conseguia dar atenção à fada. Ela perdeu a cabeça! Quando as fadas se zangam ficam muito feias e caem-lhes as asas. Começou a andar de um lado para o outro, com passos muito pesados, a gritar:

– Vou-me embora! Habitantes mal agradecidos! Então vocês não sabem que, se não fossem as fadas, se não fosse o nosso trabalho, vocês não sobreviveriam neste reino? Ah! Que ingratos! Vou-me embora! Que injustiça!

Os habitantes nunca tinham visto aquela fada zangada. Que feia que estava!
Quando se estava a ir embora, a fada feia e zangada cruzou pela primeira vez nesse dia o olhar com o prevaricador. A tristeza era tão profunda que os olhos pareciam ter desaparecido e só se via tristeza. O coração da fada estremeceu.
– Tenho uma ideia. Queres vir voar comigo, habitante prevaricador?
A fada que já não estava feia nem zangada, pegou nas suas asas novamente e deu-lhe as duas mãos. Voaram, voaram, voaram… Durante muito tempo, os habitantes que tinham ficado em terra ficaram em silêncio, a olhar para o céu, à espera que voltassem.
Quando finalmente aterraram, foi o próprio habitante a contar aos amigos como é que as fadas voam! E a fada-professora ficou em silêncio, a ver acontecer à sua frente o que desejava para todos… Que no coração dos habitantes nascesse o desejo de voar, de ver a Beleza do reino…

E no fim desta aula maravilhosa, ouviu-se rir. Aquele riso que é alegre porque abraça a tristeza.
Nesse dia, o habitante percebeu que tristeza que sentia era fome da Beleza que encontrou em altos voos.

Catarina Almeida