Começa aquele frenesim…, por Catarina Almeida

Começa aquele frenesim que tem os olhos postos no Natal.

Nas nossas casas e nas nossas escolas, há muitas coisas para preparar – e todos temos as nossas listas: presentes, comida, decorações, celebrações, coros, enfim.

Somos filhos de um pensamento em que somos nós a medida de todas as coisas. Pomo-nos a preparar o Natal com as coisas que nós podemos fazer. E convencemo-nos de que tudo começa e acaba aí. E dizemos aos miúdos que ajudem os pais no dia 3, sejam simpáticos no dia 5, se esforcem para fazer uma boa ação no dia 10 e assim andamos nós. Claro, é bom rezarmos mais, estarmos mais atentos uns aos outros, oferecermos as nossas fragilidades e os nossos sacrifícios a Deus, que os pode salvar – e nos pode salvar.

Mas está sempre à espreita a tentação de achar que a preparação para o Natal consiste, começa e acaba nas nossas boas intenções e propósitos. Sem querer, é isso que vamos dando a entender aos mais novos. Talvez seja uma visão curta… Quem nos poderá ajudar a ir mais longe?

Há precisamente oitocentos anos, em Itália, o pobrezinho de Assis também sentiu a mesma necessidade: preparar-se para a chegada do Menino Jesus. Viu uma pequena gruta em Greccio. Saltou-lhe à memória aquele praesepium, aquela manjedoura que tinha visto na Terra Santa, e correu a representar ali mesmo a Noite Santa do Natal. Pediu ajudas: trouxeram a vaca, o burro e tudo o que mais se lembraram. Conta a tradição que, no Natal de 1223, o próprio Menino Jesus foi também àquele lugar para Se deixar adorar por Francisco e pelos seus amigos.

O episódio de Greccio ajuda a nossa mentalidade a entrar mais a fundo no sinal admirável. São Francisco quis fazer memória, que quer dizer, fazer viver no presente algo que já encheu o coração. E sim, procurou representar o mais fielmente possível aquele momento. Assim nasce a nossa tradição: todos à volta da gruta e repletos de alegria, sem qualquer distância entre o acontecimento que se realiza e as pessoas que participam no mistério (Carta Apostólica Admirabile Signum, Papa Francisco).

Com o santo de Assis, aprendemos que não são os nossos esforços e bons comportamentos que contam – seria ainda muito pouco. O Natal é, aliás, a vitória sobre a nossa solidão e o abandono a que estaríamos votados, entregues à nossa própria medida. No Natal, Deus rasga a história, o tempo e o espaço, para vir oferecer a Sua Presença e a Sua Companhia.

São Francisco bem sabia que, para preparar o Natal, “basta só” (!) a memória viva dessa Presença e dessa Companhia. Apressemo-nos a encontrar e preparar o nosso praesepium, e assim oferecer às crianças a possibilidade de encontrar o verdadeiro Mistério de Deus neste Natal!

Catarina Almeida