Como podemos arriscar? “Está bem, D. Afonso Henriques avançou sem medo, arriscou com coragem porque sabia que ia vencer a batalha! E nós, que não sabemos o que vai acontecer amanhã, como podemos arriscar?” Retomamos O Milagre de Ourique… Conta a lenda que Jesus apareceu a Afonso e lhe deu conforto e certeza: vais vencer a batalha. Sortudo, ele… Mas como fazemos nós, sem certezas sobre as batalhas que venceremos (e as que não venceremos…), como podemos avançar na vida, tomar decisões, quando não podemos adivinhar o que o futuro reserva? Será que as certezas de que precisamos são sobre o futuro, sobre o que vai acontecer “depois”? Imagino a comoção de Afonso… Vibrava no presente, sustentava o presente, muito para além do “resultado” da batalha. Naquela hora, foi-lhe dado algo que invadia o coração e fazia transbordar um entusiasmo tão potente, tão arrebatador, como alguma coisa que o empurrava para a frente, para o passo seguinte. Só se pode arriscar por um entusiasmo no presente, por uma certeza no presente. O problema é acharmos que só uma certeza isenta de risco e de mistério nos pode fazer avançar. Quem fica à espera de ter uma certeza assim, dificilmente dá grandes passos. Para arriscar, é preciso que o coração esteja cheio agora. E isso, só isso, nos pode fazer avançar para batalhas arriscadas e misteriosas. Catarina Almeida