Continuamos aqui, por Catarina Almeida

Fechados em casa, à espera que a tempestade passe e que possamos voltar à vida normal, dos nossos trabalhos, dos nossos amigos, da nossa família. Ninguém sabe quando isso pode voltar a acontecer.

Seria uma ousadia fazer previsões e, por isso mesmo, oscilamos entre uma certa nostalgia e o nariz tapado à espera de um futuro que teima em não chegar. Entre o “que saudades” e o “vai ficar tudo bem”, o que estão as crianças a aprender com a maneira como enfrentamos esta circunstância?

Por vezes, achamos que os miúdos não pensam nestas coisas mas…

O Nuno tem 4 anos e começou a chorar porque não queria participar na videochamada diária com as educadoras e os amigos. Eu quero estar com eles a sério! A Clara tem 5 anos e fez finca pé porque quer ir para a escola. Eles estão ali mas não estão ali. A Teresa tem 1 ano e meio e foi buscar o bibe às 7 da manhã. Mãe! Mãe! Começou a tentar vestir o bibe para ver se a família a compreendia…

O Nuno, a Clara e a Teresa precisam de nós, agora. Precisam que estejamos conscientes do que está acontecer agora porque as recordações de um passado bonito ou o nariz tapado e os desenhos de arco-íris não os convencem.

Podemos fazer teorias optimistas mas somos nós que precisamos delas porque, na verdade, temos medo de aceitar o desafio que a vida nos lança neste momento concreto da história.

As nossas tentativas são justas e confortam o desalento e a desorientação em que nos encontramos. Só que os miúdos são os nossos maiores aliados porque exigem de nós um caminho que faça sentido.

Os pais e os educadores que estão a protagonizar um inédito movimento educativo, como já tive oportunidade de constatar, têm agora uma ocasião privilegiada para colocar as suas certezas à prova e verificar se eles se aguentam perante o impacto do dia-a-dia.

Passamos o dia a preparar plataformas online, aulas virtuais, materiais e recursos que se adequem aos alunos e às famílias. Os psicólogos dão pistas importantes para criar ambientes positivos e saudáveis, sem mascarar a dureza e a dificuldade do tempo presente. Os avós sofrem por não poder ajudar os filhos e a distância desampara-nos porque nenhum computador é capaz de levar até a casa a companhia que precisamos.

No meio deste turbilhão, as crianças continuam a olhar para nós, à procura que os levemos hoje a um lugar onde queiram estar.

Não podemos ir à escola, não podemos ir a casa dos avós, não podemos brincar com os amigos. Podemos só estar em casa e é aí que tentamos mostrar-lhes fotografias ou falar-lhes do amanhã, mas os nossos filhos não nos deixam esquecer que isso tudo é muito pouco porque eles querem viver agora.  

Os miúdos estão mais conscientes do que nós: querem uma resposta para o dia de hoje. O que temos para lhes oferecer?   

Catarina Almeida