De fora, como as cebolas!, por José Feitor Em geral, parece que se vai à escola para fazer atividades, não para trabalhar e estudar. Dá-se mais ênfase ao social que ao intelectual. Acho que é um erro. Por um lado, os alunos com mais capacidade não desenvolvem todo o seu potencial e, por outro, os que têm uma menor curiosidade natural por aprender não avançam. Além disso, muitos gostos são adquiridos, como a história, a leitura e a música clássica. No começo podem parecer chatos, mas, se alguém insistir para que tenhamos um primeiro contato, é possível que acabemos gostando. Atualmente, muitos jovens escolhem sem terem conhecido e, claro, escolhem o fácil. Inger Enkvist No outro dia o meu filho (com os seus 10 anos) disse-me que «a vida às vezes é como as cebolas: faz-nos chorar.» Na nossa vida é verdade que, em vários momentos, sentimos vontade de chorar. No entanto é engraçado perceber que o estímulo de chorar vem de fora (como o ácido da cebola) ou de dentro, como quando desperta o coração. É na diferença do estímulo que podemos discernir se o que nos move é o que vem de fora ou o que brota de dentro. Nas nossas relações com os outros (que neste momento de isolamento social não são táteis mas, mesmo virtuais, são essenciais ao nosso coração) temos de perceber que o que nos move tem de vir do coração. O que vem de fora, sem relação com o interior, pode despoletar emoções fáceis mas que desaparecem quando lavamos a cara. Assim me tenho sentido ao longo destes dias com a quantidade de emails e mensagens que recebo de mil e um sites de vídeos, resumos e outros entretenimentos para os nossos alunos. Vêm de fora mas é preciso ceder à tentação de nos desligarmos da relação humana que temos com os miúdos. Como professores temos a responsabilidade de lhes propor um significado para a proposta que lhes fazemos. Tem de nos sair do coração. A proposta didática do período que aí vem deve, em primeiro lugar, primar por manter a relação, seguida de acessórios que os ajudem a compreender o significado das aprendizagens que lhes estamos a propor. Parece simples mas exige de nós a consciência de que o que vamos propor não é um entretenimento para os dias passados em casa, mas sim um caminho verdadeiro na imensa aventura do conhecimento. E para isso há que ser criativo. Peço para fugir da tentação de propor algo que chegue aos meus alunos do lado de fora, como o ácido da cebola, mas que vejam que o que de melhor tenho para lhes propor é a beleza do conhecimento. E quando ele acontece, o coração não fica indiferente… e faz-nos comover. José Feitor