De onde vem a luz? O ar anda pesado. Chego de férias e vejo os jornais cheios de problemáticas, de opiniões, de análises que – em geral – são bastante negativas. Sobre quase todos os aspectos da vida das pessoas paira uma névoa de incerteza, de “insegurança existencial”, como lhe chamou o Zygmut Bauman em várias ocasiões. Inseguros sobre a existência, frágeis no quotidiano, impulsivos, sem consciência sobre os desafios no tempo e no espaço… Não é bem um pessimismo que domina; parece-se mais com um medo que nos empurra para as nossas zonas de conforto, sem nos mexermos muito para não fazer barulho e ser descobertos. E eis senão quando, exactamente na trincheira onde nos escondemos, entra um ar mais límpido e mais profundo, que até parece ser capaz de nos dar fôlego para sair, para voltar a arriscar, para encher o peito e enfrentar todas as circunstâncias. De onde vem esse ar? De onde vem a luz, a luz que precisamos para ver melhor, para ver o caminho e o horizonte? There is a crack in everything. That’s how the light gets in, cantava Leonard Cohen. A luz entra pela fresta, pelo que está partido, quebrado, débil. A luz entra pela insegurança que tentamos disfarçar; entra pela fragilidade que procuramos evitar; entra pela impulsividade que queremos contrariar. Muitas vezes, o medo e a insegurança imobilizam-nos, bloqueiam-nos os passos porque não somos capazes de chegar por nós próprios a certezas inabaláveis. E é aí que a luz entra para nos relembrar que somos necessitados, que precisamos uns dos outros. A mim, a luz lembra-me que é preciso arriscar. Arriscar ir ao encontro dos outros e arriscar ser encontrados pelos outros. Apostar e arriscar alguma coisa para ganhar outra maior. Tudo pode acontecer nesta aventura de descobrir a Luz que faz a nossa existência e nos oferece uma relação capaz de sustentar a vida, porque é Amor vivo e verdadeiro. Bom ano! Catarina Almeida