Eu conto!

Tudo a rasgar as vestes por causa das Europeias: os que votaram porque votaram assim ou assado; os que não votaram porque são irresponsáveis e desinteressados; os políticos porque debateram assuntos que não interessam; a meteorologia porque esse dia devia ter sido de frio… Seja lá o que for, por aí parece que o problema está fora de mim. Só que na verdade, o que aconteceu tem a ver com alguma coisa que está dentro de mim.
 
Uma certa visão da pessoa, que se chama individualismo, carregada de outros “ismos” tão em voga nas últimas décadas, teimou em afirmar a liberdade como valor absoluto e máximo na educação e na sociedade. Com dois pequenos problemas… 
 
Em primeiro lugar, passámos as últimas décadas a afirmar a liberdade como ausência de vínculos. Nas escolas, que as crianças e os jovens escolham “o que querem”, sem a interferência dos adultos opressores. Ups… Agora querem que essas crianças e esses jovens se vinculem ao ideal europeu, ao ideal democrático, ao ideal da cidadania… com base em quê?
 
Depois, a liberdade como bandeira ideológica subverte a verdadeira liberdade. Pensem comigo… Não será verdade que nos sentimos livres quando nos ligamos a alguém ou a alguma coisa boa? Não será verdade que nos sentimos completamente livres quando escolhemos voluntariamente alguma coisa que desejamos, que consideramos como boa para nós? 
 
Pois bem… O problema do país e da Europa, o problema do meu bairro e do meu emprego, o problema das relações que vivo, começa em mim. O que está dentro de mim conta e conta muito. Nesse sentido, penso que é hora de cuidar do “eu” em vez do “cidadão”. 
 
O cenário desastroso das eleições europeias é mais um sinal do descuido da pessoa, do desinteresse das pessoas por si próprias e, consequentemente, pelos outros. É mais um sinal de uma falsa educação livre, de uma mentira dita e repetida às nossas crianças.
 
Educar as crianças para ser livres, educá-las livremente, significa ensiná-las a escolher. E dizer-lhes que a liberdade é fazer o que quiserem, que escolham sozinhas é dizer-lhe que decidam sozinhas. Que vivam sozinhas. E isso seria uma pena…
 

Catarina Almeida