Diante da Beleza – Ah! Já sei! E se a meio da história entrasse o Beethoven? Pedíamos ajuda ao Zé, ele mascarava-se e vinha falar aos miúdos. – E era óptimo se tocasse alguma coisa. O ideal era o Concerto para Violino e Orquestra. E assim começou uma tarde de ideias e planificações que nos deixaram muito entusiasmadas, a preparar a dramatização de uma história para as crianças do Pré-escolar e do 1º Ciclo. Porquê? Temos vindo a aprofundar uma hipótese de trabalho: a nossa tarefa é favorecer nas crianças pequenas uma relação com a realidade, através dos sentidos. No mundo de hoje, a virtualidade ganha terreno e os miúdos estão mergulhados num mundo em que raramente se toca, se cheira, se ouve, se saboreia, se vê. As consequências imediatas são o alheamento e o aborrecimento, as dificuldades de memória e de concentração, incapacidade de dominar os movimentos e tudo o mais que ouvimos por aí. Neste mesmo mundo, miúdos entre os 3 e os 10 anos estiveram em silêncio e inteiramente compenetrados a ouvir uma história que incluía a entrada surpreendente do “Beethoven” que, imagine-se!, tocou mesmo trechos do maior génio musical de todos os tempos. No fim, um gaiato perguntou “como é que o senhor sabia tocar tão bem”. Este gaiato vem de um contexto pobre, com pouca cultura, mal sabe falar. E é nesse contexto, nessa cultura, nessa linguagem que a força da Beleza e da Verdade entra e rasga, dialoga com o coração dele e fá-lo balbuciar umas palavras que precisam de tradução para exprimir o que lhe tinha acontecido. Andamos tão distraídos com as competências e as capacidades deles que, muitas vezes, nos esquecemos que a única maneira capaz e competente de os fazer crescer é por-lhes a Beleza diante dos olhos, diante dos ouvidos, diante do coração. Nota: Um agradecimento ao Zé, que sem ele as nossas programações não chegavam aos corações. Catarina Almeida