E assim foi, por José Feitor

«Apesar das possibilidades sempre existentes na mudança de rumo, haverá que fazer escolhas e que tomar decisões. Estas decisões levam o adolescente a comprometer-se com o seu futuro.»

Adaptado de BRACONNIER, Alain e MARCELLI, Daniel – As Mil Faces da Adolescência. Climepsi Editores, Lisboa, 2000.

Para assinalar este fim de tempo natalício, fui assistir a um concerto de Natal. Escolhi ir a este porque tinha alguns antigos alunos a cantar. Ao longo do concerto fui recordando alguns momentos de quando era eu a atuar no palco da sala de aula e eles, na plateia, a assistir às minhas incursões sobre a geologia da Serra de Sintra. Estando eles em Direito e o outro em Economia, pouco se devem lembrar sobre a formação dessa serra, mas questiono-me sobre o que ainda resta das aulas que tiveram comigo. 

Este ano (letivo), antes do primeiro período terminar, perguntei aos meus alunos do 9º ano se já tinham ideia do que iriam escolher no 10º ano como área de estudos. Foi engraçado perceber que as dúvidas deles são as mesmas que eu tive quando tinha a sua idade. Lembrei-me de lhes contar como aconteceu comigo. Não tive qualquer pretensão de os levar a uma escolha que fosse já a minha, mas que aprendam um método que lhes pode servir para a vida: olhar para os adultos que têm à sua volta e aprender a tomar decisões com os seus exemplos.

Tradicionalmente, a maioria de nós passou pelo ensino público português e fomos formados em escolas com qualidade e em que o sistema de ensino era baseado em aprender a os saberes conhecidos na altura. 

Recordo-me que foi no meu 8º ano que decidi que queria ser professor. Era simulando esta profissão que desenvolvi um método de estudo para as várias disciplinas que tinha. Quando estava em casa colocava almofadas a fingir que eram alunos e explicava-lhes os conteúdos que precisava saber. O cenário era tão real que chegava a ter discussões por causa da indisciplina «dos meus alunos». Foi o encontro com aqueles meus professores que me fez desejar querer ser professor. A minha professora de Português, no 9º ano, foi uma das que marcou todo o meu percurso profissional. Recordo-me ainda hoje da professora Alcinda Figueiredo por me ter tirado da relação difícil que tinha com esta disciplina.

No período das matrículas a minha mãe assinava os papéis da inscrição mas era eu que tratava de tudo. Tinha chegado o momento de escolher a área que queria seguir. Como a grande maioria dos adolescentes de hoje, também eu tinha grandes dúvidas sobre que área seguir. Tinha colocado Artes e Economia de lado por isso estava em dúvida entre Ciências e Humanidades. Tinha uma certeza: queria ser professor de Ciências ou de Inglês/Alemão. Antes de preencher os papéis que a minha mãe tinha assinado, fui falar com a professora Alcinda e perguntar se seria ela a dar as aulas no agrupamento de Humanidades. Achava que só com ela iria conseguir suportar 5 horas de Português. Perante a resposta negativa da Professora, decidi que então iria para Ciências e faria o meu percurso para ser professor de Ciências. E assim foi. 

Na altura não prestei grande importância a este episódio mas hoje penso muitas vezes como seria a minha vida se a professora Alcinda tivesse dito que seria ela a dar Português e eu tivesse seguido Letras. Hoje tenho mais critérios para tomar decisões na minha vida mas penso na quantidade de alunos que me passam pelas mãos todos os anos e as vidas que se alteram com uma resposta minha a uma qualquer pergunta que me façam. Precisamos tomar esta consciência para a nossa vida quando somos confrontados com uma pergunta de alguém. Peço para este ano esta tensão de levar a sério as perguntas que os adolescentes me fazem.

José Feitor