É hoje!, por Catarina Almeida

– É hoje!

Foi a primeira coisa que pensei quando abri os olhos de manhã.

É hoje o dia em que muitas crianças começam a regressar à escola, depois de tantos meses de lockdown

O percurso dos pés e dos pensamentos foi por aí fora: é mesmo importante acolhê-los bem, dar-lhes segurança, transmitir-lhes as novas “regras” de convivência; é mesmo importante que o primeiro dia assinale uma novidade que está, ao mesmo tempo, cheia dos acontecimentos que marcaram longas semanas longe dos amigos e dos professores. É mesmo importante, nas palavras de Maria Ulrich, “dar um passo, o mesmo passo sempre renovado. Assim vivemos, assim crescemos, assim convivemos (…)”.

Como é possível dar passos, quando tantas vezes ficamos bloqueados pelo medo? Como podemos avançar, quando tudo é tão incerto? Qual é a novidade que pode renovar os nossos passos, para podermos viver, crescer e conviver?

A primeira pista que encontro é o acolhimento. Numa circunstância como esta, em que os pais ficam à porta das escolas e, do lado “de lá”, se encontram olhos brilhantes e sorrisos escondidos atrás das máscaras, é preciso reinventar o acolhimento. Reinventar os abraços. A experiência de acolher e ser acolhido determina uma dimensão fundamental de “ser” e “fazer” escola. Chegamos com tudo o que nos aconteceu, com o que somos nos desafios que continuamos a enfrentar, em plena luta contra um vírus ainda tão desconhecido. Com o que crescemos, com as dificuldades que surgiram e as descobertas que fizemos. Somos as mesmas pessoas, renovadas.

Num mundo que prefere, tantas vezes, escapar às perguntas últimas, os miúdos não vão “comprar” o nosso relativismo. Precisam de encontrar adultos certos. Até podemos estar fragilizados, até podemos estar debilitados, mas perguntemo-nos, antes de mais, qual a razão da nossa esperança. Algo nos faz sair de casa, abrir as escolas e dizer às crianças e às famílias: venham! Dar nome a esse “algo” é fundamental para as contas que temos de fazer, agora que começamos e ao longo das próximas semanas. O que vos faz caminhar? É a pergunta que os miúdos trazem nos olhos.

Finalmente, é preciso arriscar. Sem poesia. São necessárias decisões, medidas e procedimentos que diminuam o risco de contágios. São precisas atenções e cuidados que desafiam as nossas modalidades habituais de relação. Pois bem, sejamos responsáveis, tendo em conta que reabrimos os portões em plena pandemia.

Sejamos também livres, isto é, capazes de escolher o bem e a beleza que nos entram pelos olhos adentro. Depois, é “só” pôr esse bem diante dos olhos de todos…

Bom ano!

Catarina Almeida