É preciso esperar! Enquanto as crianças almoçavam, pus-me a conversar com uma das educadoras. Chegou a B. e disse: – Ana, já acabei de almoçar! – Óptimo. Levanta a mesa e podes ir brincar. Continuámos a nossa conversa e ouvimos chamar, com voz em esforço: – Anaaaaaaa…. Não queria acreditar… A B. tinha literalmente levantado a mesa e estava à espera que lhe dessem mais indicações, até porque lhe estava a custar. Depois de um ataque de riso incontrolável, a Ana lá lhe explicou que “levantar a mesa” significa colocar os pratos, talheres e copos sujos para lavar… Este episódio simples e caricato deu-me gargalhadas para a tarde toda. Mas também me deu que pensar: quantas vezes dizemos coisas óbvias para nós e impercetíveis para as crianças? O que dizemos nem sempre encontra lugar na experiência que fazem da realidade. O que fazer? A propósito disto, lembrei-me também de uma conversa espantosa com alguns alunos do secundário, que descobri estarem plenamente convencidos que sempre que se esforçassem e se empenhassem irrepreensivelmente em alguma tarefa, o resultado viria a ser o esperado. Tudo a propósito de audições para as personagens de um teatro que vamos fazer: esforcei-me, saí-me bem, nada há que me possa ser criticado logo… não percebo porque não sou escolhido! Quer na explicação idiomática de levantar a mesa, quer numa conversa mais profunda sobre a justiça e as circunstâncias que vivemos, apercebi-me de uma tentação subtil que nós, educadores, temos em “fazer perceber coisas”. Fazer perceber uma expressão, fazer perceber a justiça, fazer perceber o que é bom e o que é mau… Tenho descoberto que as coisas não existem só para ser percebidas, mas sobretudo para ser vividas. É preciso um caminho e, para isso, é preciso esperar e é preciso confiar. E, devagarinho, dar passos em que não se percebe tudo (às vezes não se percebe mesmo nada!) mas, à medida que se avança uns com os outros, a nossa percepção começa a alargar-se a partir da experiência, a ver coisas que antes não víamos, a compreender o que antes não compreendíamos. Não basta um esforço racional, é preciso dar espaço, tempo e silêncio para reconhecer o significado das coisas que se revelam ao longo do caminho. E é preciso aceitá-las, abraçá-las, amá-las. Que educação daríamos às nossas crianças, se as acompanhássemos a viver assim…! Catarina Almeida