E quando querer bem é deixá-lo ir…? O bom tempo tinha finalmente chegado ao reino e até os mais cinzentões estavam animados. Com o bom tempo, tinha chegado também a azáfama própria daquela altura do ano: festas, bailes, passeios e muita animação para celebrar a maioridade do príncipe. Naquele reino, quando os príncipes faziam 10 anos, partiam para outra terra durante muitos, muitos anos para estudarem literatura, história e ciências, para fazer desporto e aprender diversas artes, enfim, para crescerem em sabedoria, estatura e graça e virem a ser reis dedicados e competentes. Com o nosso príncipe não foi diferente… Nas vésperas da sua partida, como era tradição, todos os habitantes lhe escreveram uma carta e se juntaram para lhe oferecer um presente que o ajudasse a lembrar-se do seu reino, dos seus súbditos, da sua identidade. Quando o secretário da rainha começou a organizar os papéis, percebeu que alguma coisa não fazia sentido. Faltava a carta da Fada Miquelina! Ela nunca se esquecia de nada, como era possível não ter entregue o envelope real? Foi procurá-la ao bosque. Encontrou de imediato a Fada Agripina com ar de caso: – Senhor Licínio, ainda bem que o vejo! Estou muito preocupada com a minha irmã Lina. Está há três dias e três noites sentada em frente ao papel, com a caneta na mão e nada! – Mas falta-lhe inspiração? – Não sei. Ela não fala, parece que não vê e que não ouve… Até lhe ponho o dedo debaixo do nariz de vez em quando a ver se respira! – Vamos lá ver o que se passa! O secretário Licínio foi atrás da Fada Agripina até chegar à clareira onde a Fada Miquelina estava imóvel. O olhar parecia vazio, o corpo parecia não ter energia e até as asas estavam meio murchas… – Ó Fada Miquelina, tenha paciência! Sabe que o príncipe não se pode ir embora sem levar todas as cartas! Podia fazer o obséquio de escrever a sua… e rápido!? Nada… Silêncio. A atrapalhação era grande até que, de repente, chegou a Rainha. Vinha alegre e sorridente. A Fada Miquelina olhou para ela e balbuciou: – Alteza, como consegue sorrir? O príncipe vai partir, não sabemos quando o voltaremos a ver e bem sabemos como ele precisou de nós para crescer e ser capaz de enfrentar este mundo! – Lina, lina… Como conseguiria não sorrir? Foi para este dia que trabalhámos, para que ele possa enfrentar a vida e viver uma grande aventura! – Alteza… Estou tão triste! Que saudades vou ter! Tenho medo que se perca no caminho, que lhe aconteça algum mal! Ai, quero-lhe tanto bem! O sorriso da Rainha parou de brilhar e o seu semblante pôs-se sério e grave. Disse-lhe calmamente: – Miquelina, e quando querer bem é deixá-lo ir…? Ele vai voltar mais certo, mais feliz, mais livre porque fez o caminho dele. Mas, para isso, é preciso deixá-lo ir. Catarina Almeida