Encontrar e [é] conhecer, por Catarina Almeida Uma bela tarde, os miúdos foram ao parque e lá encontraram um menino que estava só com o pai. A família tinha chegado a Portugal há pouco tempo, vindos de um país em África e ainda estavam a “arrumar a casa”. As crianças tinham em comum a língua e facilmente se entenderam e começaram a brincar juntos. O pai da criança ficou surpreendido com o que aconteceu. Tinha uma grande preocupação com a educação do filho e queria ponderar as suas escolhas, queria o melhor para ele. Quando o grupo de crianças se despediu para voltar para a escola, pai e filho pediram para ir com eles, conhecer o lugar de onde vinha a alegria, o gosto de vida que eles traziam consigo. Os miúdos da escola convidaram o novo amigo para a sua sala e foram brincar. Mal se sentaram no tapete, uma das crianças deles disse à educadora que lhes tinha acontecido o mesmo que aconteceu à Joana e ao Manuel de A Noite de Natal de Sophia de Mello Breyner. Quando a educadora me veio contar, vieram-me as lágrimas aos olhos. Eu tinha passado a manhã nas salas a cantar cores e números em inglês e estava com o coração apertado porque reparei que os miúdos já aprenderam os nomes das cores e dos números nos tablets e nos computadores mas que realmente não sabem o que fazer com isso. Os miúdos apreendem informação desligada de uma relação e desenvolvem competências e capacidades sem sonhar o gosto que dá conhecer verdadeiramente, isto é, deixar que o meu “eu” se relacione adequadamente com o que existe e o descubra, o desvele, se deixe interpelar por alguma coisa que é revelada pelo embate com “as coisas”. Comoveu-me ver que uma criança de 5 anos descobriu mais um bocadinho de si na relação com os outros e com o mundo. Lembrei-me, mais uma vez, que é essa a nossa tarefa. Dar-lhes, oferecer-lhes todo o bem que permite este Acontecimento, este “encontro” entre eus, tus e o mundo. A ver se não me esqueço de contar esta história das próximas vezes que me perguntarem com ar duvidoso se não é um bocadinho exagerado contar Sophia a crianças tão pequenas… Catarina Almeida