Então quem és tu? – E depois… e depois… O Gigante encontra Jesus caído no jardim. – Jesus? – perguntei eu. Quando a miúda disse Jesus, fulminei a educadora com os olhos. Tínhamos combinado contar a história do Gigante Egoísta durante a Quaresma, sem fazer referências explicativas ao significado, na tentativa de os introduzir a uma experiência que os ajudasse a entrar no mistério da Páscoa. O nosso intuito era retomar os pontos da história durante a Semana Santa, aí sim relacionando-os com a Páscoa. – Ai não, enganei-me! Encontra o Menino! – Mas por que é que disseste Jesus? – Porque é muito parecido! Depois de a educadora jurar a pés juntos que não tinha dito nada, continuámos o diálogo sobre o reencontro do Gigante com aquele Menino, cuja presença vencera o egoísmo e abrira o jardim novamente às crianças. – Então quem és tu? – quis saber o Gigante, sentindo-se invadido por um estranho sentimento e ajoelhando-se diante da criança. (O. Wilde, O Gigante Egoísta) Nas últimas semanas, os miúdos conheceram o Gigante, o seu jardim desabitado, as crianças que conseguem entrar por um buraquinho, a comoção do Egoísta ao redescobrir a Primavera (e a Vida!). Tudo através de histórias no tapete, de desenhos, de dramatizações e outras actividades adequadas. Sem pretensões explicativas, com a consciência do valor do implícito nestas idades, toda a vida da escola aconteceu na companhia do Gigante e das suas peripécias. E eis que quase a chegar aos dias misteriosos da Páscoa, aquela catraia responde à pergunta do Gigante: quem és tu? Com a simplicidade própria dos seus cinco anos, ela penetrou os traços daquela presença, a que mal sabe dar nome, mas que é inconfundível porque só diante de Jesus nos ajoelhamos. Ela sabe que só Jesus entra por um buraquinho que deixámos inconscientemente nos nossos muros; ela sabe que só Jesus abraça todos os nossos egoísmos. Ela sabe porque vive, porque conhece aquele Jesus escondido nos amigos, nos adultos, na beleza do que existe e na alegria de aprender! Nem sempre lhe saberá dar nome mas vive essa experiência. Desta vez, a miúda reconheceu Jesus, percebeu quem era aquele Menino. Bem dizia Maria Ulrich, que “A Criança não é sensível às palavras, aos discursos ou lições teóricas. A Criança só assimila o que sente e vê.” Agora que se aproximam os dias santos da Páscoa, convidamos todos os educadores e pais a juntarem-se a nós nesta reflexão, no próximo dia 10 de abril, às 18h, para o encontro “Viver a Quaresma com o Gigante Egoísta. Reflexões sobre uma experiência com crianças dos 3 aos 10 anos“ Catarina Almeida