Entrar nos sinais, por Catarina Almeida – Hoje tenho um desafio para vocês! Depois de completarem a leitura do vosso livro desta semana, cada um vai apresentá-lo aos amigos. – Mas nós já sabemos fazer isso. É dizer o autor, o título, a editora… – Sim, sim… Desvalorizei o campeonato das competências inúteis de que os meus alunos tentavam vangloriar-se e disse: – Vou começar eu! Apresento-vos a Fada Oriana. Contei-lhes resumidamente o drama da pobre Oriana sem asas por ter abandonado a sua missão de ajudar os habitantes da floresta, seduzida pelo reflexo de si própria. Li algumas partes do livro, escolhidas do apaixonante enredo que tão bem descreve a vida de cada um de nós. Propus, claro, um guião com passos simples e claros que as crianças podem seguir, ao mesmo tempo que fazia diante de toda a turma aquilo que lhes sugeria. Mal terminei, lancei-os ao trabalho. – Não, professora!!! Não!!! Agora quero ler a Fada Oriana. Se não foi em coro uníssono, pareceu. O problema é que só tinha comigo um exemplar e não dava. Recomendei-lhes que comprassem e lessem em casa, porque vale realmente a pena. Ainda insistiram com tentativas de disputa do papiro, mas só havia um livro, pronto. Com o desconsolo próprio de quem sente que sobra apenas um second best, atiraram-se às tarefas, não muito convencidos, mas disponíveis a ver se o que tinha acontecido com A Fada Oriana poderia repetir-se também com o livro que tinham escolhido. Tive pena de alguns deles, aliás, da maioria, porque os livros que tinham nas mãos eram muito poucochinho ao pé da Sophia e da Oriana. Mas fiquei contente porque o que eles experimentaram foi exatamente o conhecimento como um acontecimento. Viram uma modalidade de relação com a realidade, segundo um interesse, um método e uma linguagem que favorece o diálogo com algo que nos quer “falar”. A escola é – ou pode ser – este lugar que, assim, gera protagonistas criativos; será assim se recuperar a natureza da sua missão: ensinar (bem diferente de instruir ou capacitar!), in signo, quer dizer, entrar nos sinais, isto é, mostrar a realidade como sinal, portadora de um significado que me interessa. Como? Eis o fascinante trabalho de educadores e professores. Agora que as aulas estão a acabar, é uma boa altura para nos colocarmos a pergunta… Catarina Almeida