Era preciso deixar entrar… – Miúdos, por que é que o Gigante expulsou as crianças do jardim?– Porque era maaaauuuuu!!!!!!– Mau? Não sei… Quer dizer ele era egoísta, sim, e ser egoísta não é o máximo da bondade mas… Por que é que ele não queria as crianças lá?– Porque queria ter o jardim só para si, para só ele se poder divertir lá…? – disse a Maria com um fiozinho de voz corajosa. Tem razão, a Maria. O Gigante não expulsou as crianças porque era mau. Ele era egoísta, queria o jardim só para si. Ou pelo menos, pensava que era isso que queria. Acontece, porém, que o jardim sem as crianças é frio e o vento sopra fortemente de manhã à noite. É desagradável, afinal. E o Gigante Egoísta passa também a ser um Gigante insatisfeito. A Primavera tarda em chegar, confessa ele impaciente. Certo dia, acontece algo deslumbrante: no meio da sua impaciência e do seu egoísmo, o nosso amigo reparou nas crianças empoleiradas nas árvores, elas sim portadoras da Primavera. Só depois deste espetáculo, o Gigante se dá conta que tem sido muito egoísta… Nós, pequenos gigantes, pensamos que queremos o jardim só para nós, expulsamos estes e aqueles da nossa vida, expulsamos esta e aquela circunstância, construímos os muros à volta do nosso jardim. E esses jardins ficam frios, ventosos, torna-se desagradável lá estar. Nós, como o Gigante, não percebemos que a Geada e o Vento Norte se instalaram porque nós expulsámos as crianças do jardim e, por isso, a Primavera não chega. Ainda bem que, tal como nesta história, os nossos muros têm buraquinhos por onde as crianças conseguem entrar, por onde entram aqueles imprevistos, aqueles maravilhosos incómodos, que trazem de novo a Primavera ao jardim. – Tenho sido tão egoísta! – reconheceu ele. – Agora percebo a razão por que a Primavera não aparecia. (…) O meu jardim será, para sempre, o lugar de recreio das crianças. O Gigante poderia ter mandado as crianças embora de novo. Mas não… Optou, antes, por tomar uma decisão definitiva, para sempre. É muito curioso notar que as crianças são apenas mediadoras da Primavera. O Gigante não diz que as crianças são o melhor do mundo, nem decide fazer uma multinacional de jardins para crianças. Nada disso. Elas são as que trazem a Primavera ao jardim e, por isso, o que o move é a chegada da Primavera. A chegada da Primavera, que o fez saltar da cama, que lhe fez saltar o coração na garganta, era a possibilidade de plenitude para si e para o seu jardim. Para isso, era preciso deixar entrar as crianças… Catarina Almeida