Era uma vez uma menina… que escrevia a sonhar Era uma vez uma menina que sabia ver e sabia sonhar… e aprendeu a escrever. Quando descobriu que sabia escrever, descobriu que podia guardar tudo o que via, o que observava, numa caixa do tesouro maior do que a sua cabeça e até maior do que a sua memória, que era enorme! Como só tinha uma irmã e naquele tempo as meninas não brincavam com pessoas desconhecidas, descobriu ainda que o que ia escrevendo podia ser partilhado com outros, mesmo desconhecidos ou aqueles que moravam longe… e com as crianças que estavam doentes… aconteceu então que lhe pediram para escrever umas histórias que podiam ser lidas na telefonia, ao sábado e ouvidas por pessoas em qualquer lugar de Portugal, desde que tivessem um aparelho de rádio. Sabem, um dos rapazinhos que adorava ouvir essas histórias é hoje o nosso Patriarca, D. Manuel Clemente! Depois a menina achou graça escrever a meias com outra menina que fazia desenhos muito bem e ambas criaram bandas desenhadas, muito engraçadas, chamadas “Fresquinho e Quentinho”, que eram as aventuras de dois esquimós. No tempo em que poucos iam ao cinema e não havia televisão, os jornais infantis eram uma descoberta para as crianças que os liam… e a menina que escrevia a sonhar, apesar de ter um ar muito sério, sabia muito bem fazer rir os outros. Tinha sentido de humor. Uma das suas histórias mais engraçadas é a das notas de dinheiro e das notas de música que, num dia de Carnaval, trocam o seu lugar e fazem uma partida enorme a um Senhor Rico e Forreta e a um Pianista Pobre… fantástico, não acham? Esta menina não casou, nem teve filhos. Mas quis ser professora e deu muitas e belas aulas a crianças e jovens, ajudando os alunos a descobrir o que os grandes escritores nos contam e como podemos sonhar acordados lendo um poema ou viajar para outras terras lendo um bom texto. O mais importante na sua vida era a família, em especial a sua irmã, os seus alunos e os colegas professores e, acima de tudo, Jesus que foi sempre para ela o Grande Companheiro. Com Ele aprendeu o que era: o Caminho, a Verdade e a Vida… Nesse Caminho, encontrou outra menina, num Movimento para raparigas que era a Acção Católica. Essa outra menina, que tinha muitos Projectos e grandes sonhos também, quis abrir uma Escola para educadores de infância, e logo convidou a menina que escrevia e era professora para a ajudar nesta nova Escola, mas não só para dar aulas, era para juntarem os seus sonhos e a sua Fé. Na Escola das educadoras a menina que escrevia os seus sonhos tinha imenso trabalho… dava aulas, organizava o que se escrevia e até criou uma Biblioteca para as crianças que não tinham livros mas adoravam ler… e aí, havia mais sonhos para mais pessoas! Depressa as educadoras aprenderam a ir ter com ela à procura de histórias, de poesias, de lenga- lengas, para encantarem os meninos e meninas antes de eles saberem ler e antes de irem para a escola primária. E ela procurava o que estava escrito, conhecia bem os grandes autores mas o mais maravilhoso é que, se não encontrava o que era preciso, então escrevia ela! Assim nasceram as histórias O Chico Chiclete e a Maria Castanha, só para mencionar as mais famosas. Como as educadoras de infância se foram espalhando por todo o Portugal e mesmo pelo Mundo, as histórias desta menina corriam o país de lés a lés e podemos ouvi-las em Angola, na Guiné, em Timor! A menina era muitas vezes convidada para ir a terras distantes falar com alunos de escolas primárias, ou nas juntas de freguesia, sobre os seus personagens e sobre os temas das histórias. Procurava sempre actualizar-se, como ao escrever Verde é a Esperança, sobre a questão da Ecologia. Gerações e gerações de crianças e de educadores ou professores sonharam a partir dos seus sonhos. Viveu a escrever o que sonhava e quando chegou a hora da última viagem, tinha acabado de escrever a vida de pessoas tão marcantes como o Santo Condestável ou S. João XXIII e S. João Paulo II. No céu, onde certamente encontrou o famoso Cordeirinho do Menino Jesus deve estar sentada com muitos anjinhos em volta a contar-lhes mais uma história que brotou de um sonho. Homenagem da aluna Maria João Ataíde Lisboa, 23 de Fevereiro de 2016