Ergue a tua espada Dizia Newton que «se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes» e também nós queremos ver mais longe ao longo desta Quaresma. Para isso, escolhemos São Nuno de Santa Maria e são muitos os horizontes que se avistam aos seus ombros… A valentia e inteligência como estratega militar e cavaleiro do reino. A capacidade de liderar os soldados, inspirando-lhes confiança e admiração. A caridade com os inimigos, os pobres, os feridos, os mais fracos. Podia continuar esta lista por muitas mais linhas mas há uma nota dominante ao longo de toda a vida deste grande santo que me impressiona acima de tudo e que é a obediência alegre e simples a um desígnio que não é o seu. Pôr os seus talentos ao serviço do reino em vez de se dedicar apenas à leitura e à oração; casar com D. Leonor Alvim e guardar a ideia do mosteiro, sem frustração nem ressentimento; responder à chamada do Mestre de Avis sem hesitação… A vida de São Nuno é assim porque é resposta a Alguém que chama, é vocação em todas as circunstâncias porque reconhece o seu Jesus nas pessoas que encontra, nas circunstâncias que vive, nas batalhas que enfrenta. E é uma resposta que, como lembrou o Papa Bento XVI na homilia da canonização do Santo Condestável, se esforçava por não pôr obstáculos à acção de Deus, sentindo-se instrumento do Céu na terra. Diz Pessoa no seu Nun’Álvares Pereira, “Ergue a luz da tua espada/ Para a estrada se ver». São Nuno tinha esta única intenção, erguer a sua espada para a estrada se ver, para ver o caminho e poder obedecer. Para dizer sim sem reservas, sem mas, sem titubear, é preciso ver a estrada que está desenhada e que se ilumina quando erguemos a nossa espada. Quantas vezes erguemos a espada para nos vangloriarmos, para nos destacarmos, para nos mostrarmos. E quanta tristeza encontramos quando somos nós a medida de todas as coisas… Seja a nossa vida uma espada que se ergue para ver a luz da estrada, apagando assim a escuridão da solidão e do egoísmo. Catarina Almeida