Espero que o tempo mude

“I cannot understand why the Spring is so late in coming,” said the Selfish Giant, as he sat at the window and looked out at his cold white garden; “I hope there will be a change in the weather.”

The Selfish Giant, Oscar Wilde

O egoísmo do Gigante tomou conta do jardim e, além dele, havia espaço apenas para a Neve, o Vento Norte, o Granizo e a Geada. Era sempre Inverno, frio e cinzento. Nada a fazer. Jardim sem crianças, jardim sem Primavera.

É verdade que, mais à frente na história, quando uma pequena criança consegue entrar às escondidas no jardim, a música maravilhosa interpela o coração do Gigante, que pula da cama e vai à janela ver do que se trata. Mas vamos dar um passo atrás…

I hope there will be a change in the weather. O Gigante era egoísta e tinha proibido que brincassem no seu jardim. Queria ser o único a divertir-se porque my own garden is my own garden. Mas esse mesmo Gigante está desconfortável porque a Primavera não chega… Quando vê o jardim branco e frio, diz mesmo que não percebe o atraso da Primavera. E acrescenta: Espero, tenho esperança que o tempo mude.

Nem um parágrafo decorrido e já a história muda o seu rumo. Mal o Gigante encontra a sua esperança, maior que o egoísmo, acontece a misteriosa entrada daquele menino pequenino que vai revelar tudo, que vai redimir tudo, o jardim e o Gigante.

O coração do Gigante – e o nosso – está bem feito. Está feito de liberdade e, por isso, pode entrar o egoísmo. Mas também está feito de esperança, está feito daquela espera, fica suspenso na plenitude da Primavera. E não descansa até encontrar a sua Primavera.

Quando olhamos para os desafios diários, as crianças cheias de istos e aquilos, as famílias, os colegas… podemos encontrar o egoísmo, o inverno, a geada e o vento norte. Mas o nosso caminho pode ser semelhante ao do Gigante: se formos leais com o nosso jardim e procurarmos sempre a Primavera, um menino misterioso está mesmo à espreita, num pequenino buraco do muro do nosso jardim… 

Catarina Almeida