Estamos bons da pinha? Dei com ele sentado num canto, muito atento às pinhas que se amontavam debaixo da “árvore do lanche”. Chama-se assim, a árvore que dá sombra ao lanche da manhã. Eram pinhas pequeninas, bem mais canochas que o habitual. – O que é isto? – perguntou intrigado, mal me viu. – São pinhas. – Não são não. As pinhas são grandes e dão pinhões e aqui não cabem pinhões nenhuns. Desatei-me a rir. Faz sentido. – Essa pinha é pequenina, mas é uma pinha. Tu também vais ser maior quando fores mais velho mas, para já, és uma pessoa pequenina. – E as pinhas grandes têm saudades de quando eram pequeninas? – Não sei, achas que têm? – Acho que não porque as pinhas não sentem coisas. Mas eu vou ter saudades de ser pequenino. Tu não tens? Mmmm, já me tramaste, pensei eu…! – Não tenho. Ou melhor, às vezes tenho. Mas depois pensei que é como as pinhas. As pinhas crescem e passam a ter espaço para os pinhões. E isso é muito bom, decidir crescer, decidir tornarmo-nos espaço para os pinhões ganharem forma e sabor. De repente, começamos a pensar se estamos bons da pinha. E, se estivermos com atenção começamos a reparar que, ao pôr os pinhões em primeiro lugar, estamos mais realizadas porque quando eles começam a cair percebemos que fomos feitos para isso mesmo, para amar o destino deles. Dos pinhões, claro. Catarina Almeida