Estamos todos cansados Estamos todos cansados. Tratamo-nos mal, temos pouca paciência para as crianças, apetece-nos morder aos colegas e amigos. Eis o maravilhoso cenário de um fim de ano lectivo: a arrastar-nos com a língua de fora até ao fatídico fim de julho… ! Tentamos programar o próximo ano, corrigindo os percalços deste que acabou de passar, mas já só pensamos nas férias, na praia, nos passeios e, sobretudo, no descanso! Mas afinal… o que nos des-cansa? O que nos tira o cansaço? E aos miúdos? Certamente, e em primeiríssimo lugar, usar o tempo como queremos. Acordar mais tarde (ou menos cedo…), preparar o dia com calma, ir à praia, devorar os cinco livros da mesinha de cabeceira, estar com os amigos a conversar. Ter tempo e atenção para as coisas que nos relaxam! Mas… será suficiente? As férias são um tempo em que temos poucas restrições, em que podemos livremente decidir os programas e, também por isso, se vê bem quem somos e o que desejamos quando ninguém manda em nós, pela maneira como usamos o nosso tempo livre. E, por isso, essas escolhas também são fundamentais para nos des-cansar, ou seja, para nos retirar o cansaço. E quanto às crianças? São iguais a nós, precisam de tempo, de espaço e, sobretudo, de liberdade para usar o tempo e o espaço. Imaginem que nos enchiam a vida de programas e actividades durante as férias. Que nos retiravam o nosso tempo de estar, de ser, de existir. Que pesadelo! Pois também será um pesadelo para os miúdos, que precisam de dialogar com eles próprios, com a natureza, com os amigos, eventualmente até com o dolce fare niente. Ontem conversava com uns amigos sobre isto e, ao voltar para casa à noite, reparei que muita da minha interioridade, manifestada num olhar tendencialmente agudo para a realidade, cresceu nas inúmeras tardes a brincar sozinha no quintal da minha avó. A fazer papinhas e sopinhas, a fingir que era a D. Felismina padeira e a vender pão imaginário a clientes imaginários (ou aos meus primos quando tinham paciência para brincar comigo…). Lembro-me que a Avó Eugénia aparecia à janela e sorria com as minhas invenções enquanto se certificava que não havia pernas nem braços partidos. E lá me deixava a brincar sem se intrometer. E eu cá acho que isso foi muito importante para mim e que o que me descansa hoje em dia nas férias é a mesma coisa: usar o meu tempo para fazer o que eu gosto, brincar com os primos e amigos sempre que possível e fazer tudo o que me ajude a ter cada vez mais a certeza que, à janela, Alguém sorri com as minhas brincadeiras e se assegura que estamos vivos e de boa saúde! Catarina Almeida