Expectativas altas, sempre! As expectativas que temos sobre os outros ou sobre nós próprios têm um grande impacto em como a pessoa se vai adaptar ao mundo e enfrentar os desafios do mesmo. São processos cognitivos subjectivos, complexos, dinâmicos e altamente interactivos.Se uma criança diz a um adulto que quer ser astronauta, o mais normal é que o adulto não espere que isto venha a acontecer. Mas sonhar nunca fez mal a ninguém. Deixemos as crianças querer ser astronautas, bailarinas ou veterinárias e pediatras ao mesmo tempo. Ajudemo-las a pensar no que é que vão ter que fazer para serem aquilo que estão a dizer. O mais provável é que muitas destas expectativas sejam irreais e que acabem por não acontecer porque mudaram de ideias ou porque perceberam, com o tempo, que não é possível tratar de animais às segundas e de bebés às terças-feiras. Mesmo assim, esperem grandes coisas dos vossos filhos, dos vossos alunos, dos vossos sobrinhos das crianças que têm à vossa volta. Ensinem-nas – isso sim – a construir o futuro delas passo a passo, com ordem e dedicação e ajudem-nas a lidar com a decepção de quem se iludiu, de quem esperava uma coisa diferente. Podemos perfeitamente levar o jovem que quer ser astronauta a ver exposições de exploração espacial sem estarmos a roubar tempo da sua futura promissora carreira em arquitectura. Quem sabe se um dia vou ter no frigorífico uma fotografia de um dos meus sobrinhos na Lua? E se não tiver, está tudo bem. Como mãe e como professora a dificuldade maior está noutro ponto, que me parece mais complicado do que gerir as quedas de expectativas altas entre coisas mais e menos realistas. A pergunta que tento fazer várias vezes é a seguinte: espero muito porque são meus filhos ou meus alunos e está em causa a expectativa própria que tinha como mãe ou como professora? A pressão que vemos nas crianças por parte dos adultos é notória. Pais, avós, tios e professores têm expectativas próprias para ser bem-sucedidos nestes seus papéis, independentemente da criança que têm à frente. É esta a dificuldade. Olhar para a criança e tentar imaginá-la a fazer no futuro aquilo que projectam independentemente de coincidir ou não com os nossos gostos ou com aquilo que esperávamos dela. Se não formos capazes de fazer este trabalho, a criança passa a ser um projecto próprio, a expectativa passa a ter como foco aquilo que se vai conseguir como pai ou como professor e não a pessoa que realmente temos diante de nós. Como disse ao início, acredito que as expectativas são processos interactivos e é por isso que devemos esperar grandes coisas das nossas crianças. Mas por elas, não por nós! Sofia Bilbao