Faz falta amar Na experiência de um grande amor, todo o mundo se congrega na relação eu-tu e tudo o que acontece se transforma num acontecimento nesse âmbito. (Romano Guardini) No início deste mês, um dos meus sobrinhos foi para a “minha” escola. A escola não é minha, logicamente, mas sempre a senti como tal porque percebo que seria quase impossível lá trabalhar sem me implicar pessoalmente. Aliás, se repararmos bem, as educadoras e os professores dizem sempre a “minha” escola, os “meus” meninos, chegando até a falar dos “meus” pais, como se a família se alargasse… Mas desde o princípio de maio, algo mudou. É como se a chegada do meu sobrinho tivesse aberto uma pista nova dentro do caminho que já estamos a percorrer há alguns anos. Sempre desejei que a nossa proposta fosse a melhor para aquelas crianças; sinto-as um bocadinho “minhas” e temos uma estranha ligação, quase familiar: por estamos juntos a descobrir o mundo e os seus significados, é como se fizéssemos parte uns dos outros. No entanto, agora essa ligação recebeu uma luz mais clara. Quando amamos de verdade, isto é, quando queremos desmesuradamente o bem de alguém, que alguém seja feliz, muito feliz, o coração treme na vertigem de pensar: afinal, o que estamos aqui a fazer? Ter o meu sobrinho na “minha” escola, faz-me querer ir além da pedagogia. É preciso amar para educar bem. Mais, a pedagogia torna-se uma ferramenta do amor; como se tudo, todas as digitintas, todos os passeios, todas as sestas e refeições, concorressem para o destino daquela pessoa concreta que se ama. Claro que isto também inclui as tentações de posse, de evitar o sofrimento, de querer saber a cada minuto como está… Isso não me preocupa porque são os sinais do amor, ainda que esse amor seja frágil e precise de crescer até ao seu horizonte verdadeiro. Quem diz os nossos filhos e sobrinhos, diz as pessoas que amamos na vida. Não se trata fazer coisas boas por e para elas, não se trata de fazer coisas bem, nem sequer se trata de fazer coisas verdadeiras. Todas essas coisas, se assentam no fazer o no possuir, estão destinadas a desiludir-nos, a nós e aos que amamos. Pelo contrário, quando começamos por contemplar a existência de alguém cuja presença nos faz saltar o coração na garganta, quando começamos por amar verdadeiramente, tudo o que fazemos passa a estar dentro desse amor. Faz falta amar. Para educar, para ajudar as novas gerações a crescer, para que sejam homens e mulheres felizes, faz falta querermos o bem deles. Querer bem, querer mais o bem dos outros do que a nossa ideia, a nossa medida, os nossos planos. É uma aventura, realmente… Catarina Almeida