Fazer crescer… o quê?, por Catarina Almeida “Educar – em qualquer idade – é fazer crescer”. Eis as mais famosas palavras de Maria Ulrich. Mas fazer crescer… o quê? Há várias opções! Fazer crescer… as competências? Fazer crescer… a inteligência cognitiva e emocional? Fazer crescer… os conhecimentos teóricos? E técnicos? E práticos? Sim, fazer crescer tudo isso, e muito mais, se tudo isso fizer crescer… a pessoa. E o que distingue a pessoa senão a permanente inquietação, desejosa de descobrir as coisas mais importantes da vida, testemunhadas por grandes poetas, por feitos históricos, por teoremas geniais, por representações comoventes, enfim, por tudo o que organizamos em currículos e programas, pelo valor que têm para nós e que pomos em diálogo com o coração dos nossos alunos. Numa sala de aulas presencial do 1º ciclo, algures em 2021…– Professora, posso ir à casa de banho? – pediu o Nuno.– Espera um pouco. Termina primeiro o que estás a fazer, pode ser?Passado nem cinco minutos, vejo o braço da Marta no ar.– Professora, posso ir à casa de banho?– Podes, claro – respondi calmamente, com o sorriso de quem antecipa um motim infantil.– MAS Ó PROFESS…Ainda o Nuno não tinha acabado a sua frase de compreensível indignação, a Vera disse:– Nuno, deixa. Já reparaste que a Marta é nova cá na escola e nunca tinha falado na sala? Claro, a história é – como habitualmente – um tanto ou quanto fantasiosa, mas confesso-vos que eventualmente eu saltaria de alegria interior a ouvir a minha hipotética aluna Vera. Mas o que tem isso a ver com fazer crescer a pessoa? Não se trata de separar os conhecimentos da dimensão dos comportamentos humanos (pode-se, não se pode), ou talvez pior ainda, de transformar as regras numa aprendizagem a par do inglês ou da educação física. Nada disso. É que, como adultos, nós organizamos regras necessárias para a convivência e o funcionamento adequado das rotinas; nós selecionamos conteúdos e propostas válidas para oferecer momentos de aprendizagem e conhecimento significativo; nós – pais e professores – somos uma comunidade de sentidos e significados que tem a responsabilidade de cuidar da humanidade dos nossos filhos e alunos, sem perder o horizonte da sua existência. Não é uma questão apenas de comportamentos. Trata-se de um olhar agudo e certeiro, capaz de intercetar a humanidade das novas gerações. Na Marta crescerá o protagonismo que vence a vergonha; no Nuno crescerá o rigor de terminar tarefas e descobrir que existe um bem na ordem das coisas; na Vera crescerá a capacidade de empatia e amizade com os outros. Porque – e se! – foram olhados assim. Nas nossas creches, nos nossos jardins de infância, nas nossas escolas e casas, fazer crescer passa sempre por, através da nossa vida transparente, acender o coração das pequenas pessoas que nos são confiadas, para que a relação apaixonada que estabelecem consigo, com os outros e com o mundo, lhes possa oferecer um caminho de satisfação e gratificação. Que lhes possa encher o coração, tal como enche o nosso. Catarina Almeida