Gerações Cruzadas 2023, por Catarina Almeida

Há um ano, a Fundação Maria Ulrich inaugurou um espaço de reflexão a que chamou Gerações Cruzadas, com o intuito de oferecer um contributo para uma nova forma de viver, assente no diálogo franco e leal, na estima pela experiência humana, na busca sincera por um sentido de responsabilidade e de liberdade para todos.

Nas palavras de Maria Ulrich, e retomando o Manifesto FMU para 2022/23, para se resolver o problema do mundo, a opção radical que há a fazer é a de situar a felicidade na área dos valores verdadeiramente humanos“.

Bem sabemos que o problema do mundo, os problemas do mundo estão marcados pela guerra, pela divisão, pelas lutas de vários poderes e pelo individualismo atroz, que sempre ameaçam a educação e a cultura. Afirmámos também no início do ano social, que os problemas do mundo são muitos e de difícil resolução. O problema do mundo é, como nos lembra Maria Ulrich, o problema do homem e da sua realização.

É por isso que a fundadora coloca a questão da felicidade do homem no centro de uma reflexão cada vez mais urgente; é também por isso que se refere a ela como uma “opção radical”. Correndo o risco de um romantismo ingénuo, Maria Ulrich orienta-nos para uma recuperação dos valores verdadeiramente humanos, ou seja, a vida e a liberdade. Nada de romântico, nada de ingénuo.

Sempre à frente do seu tempo, dedicou a vida inteira a reconstruir a humanidade de quem se cruzava com ela, por antever com argúcia as dores de um século em que o valor da pessoa se começava a dissolver e a aproximar de uma visão quase fabril. O “futuro” corria o risco de trazer um desvirtuar da liberdade, por confundir o homem com a máquina, esquecendo aquele âmago misterioso que o define. Corria o risco e esse risco verificou-se. A vida e a liberdade são hoje ameaçadas diariamente, sob formas subtis e aparentemente inofensivas, mas tão concretamente que as consequências estão à vista. A fragilidade das relações pessoais e profissionais, a dificuldade com compromissos e obrigações, as feridas que afastam pessoas e nações, são apenas alguns dos sinais que identificamos.

Recuperar hoje o valor da vida é muito mais do que um exercício teórico. No contexto em que vivemos, é difícil falar da vida e da liberdade sem pensar imediatamente na guerra sangrenta, especialmente entre a Rússia e a Ucrânia, mas também naquelas guerras e prisões silenciosas que atormentam o mundo através da pobreza económica, humana e espiritual, numa sociedade em que só os sucessos materiais parecem ter valor. No meio de tanta perplexidade, existe algo de positivo e inspirador?

É com a certeza que sim e com o desejo de responder a estas circunstâncias que as Gerações Cruzadas estarão de volta no próximo dia 9 de março de 2023, por ocasião do 115º aniversário do nascimento da fundadora, Maria Ulrich.

A FMU convidou três personalidades da cultura portuguesa para partilharem com o público as suas experiências, de forma a favorecer o desafio de pensarmos o que somos chamados a fazer no contexto atual. Fá-lo-ão sobre temas à sua escolha em diálogo com os seus convidados.

Retomamos, assim, as “Gerações Cruzadas”, na esperança de reafirmar a centralidade da vida e da liberdade, motores de ação, de criatividade e de realização, para uma sociedade mais livre e mais responsável.

Catarina Almeida