Gostava que visses o que eu faço

No reino distante, havia uma princesa de quem nunca falámos. Era irmã do príncipe e, ao contrário dele, fazia tudo bem. Acordava de manhã, penteava os seus longos cabelos loiros e eles ficavam imediatamente com a forma ideal. Descia as escadas muito airosa e cumprimentava a Sofia-Dama-de-Companhia, a Binha-que-Cozinha e o Criado-Folgado. Não era especialmente simpática mas era muito bem-educada. Sabia exactamente o que fazer em todos os momentos.

Na escola das princesas, era a melhor de todas! Fazia vénias na perfeição, sabia toda a história de reis e rainhas deste reino e dos outros e até conseguia falar mais de vinte línguas diferentes.

– Quem me dera, ser a Princesa Alteza… – dizia uma princesa dos reinos do norte.

– Quem me dera, fazer vénias como a Princesa Alteza… – dizia uma princesa dos reinos do sul.

Certo dia, a Fada Agripina ia a voar perto do Castelo e ouviu uma voz suave e bonita a cantar e reparou que os passarinhos poisavam nos parapeitos da janela para a ouvir. Espreitou lá para dentro e viu a Princesa muito composta e compenetrada. Viu também que tinha uns olhos muito tristes.

– Princesa Alteza, há que tempos não a via…! Tenho andado atarefada com o seu irmão. Mas agora que aqui estou… vejo que está muito triste. O que se passa?

– Agripina! Que ideia! Não se passa nada, o que haveria de ser?

– Alteza rebitesa! Conheço-a há quinze anos e nunca lhe vi esses olhos. Ou me conta já ou tenho aqui uns pozinhos de grilo falante…

– Pronto, pronto, está bem. É que… Ai que vergonha, como dizer…? (respirou longamente) Pronto, é que ontem a Binha-que-Cozinha chamou-me para começar o curso de culinária para princesas e descobri que não sou capaz de cozinhar. Fiz tudo o que a cozinheira disse, ponto por ponto, e os meus bolos não cresceram! Ai que vergonha!

– Ah ah ah! – riu-se a Fada Agripina – Eu sabia que este dia ia chegar e ainda bem que estava por perto. Mas Alteza, achava que ia ser sempre capaz de fazer tudo bem? Hoje chegou o seu dia de… crescer! Venha comigo!

Foram então sobrevoar o reino a cantar, a rir, a fazer partidas aos habitantes. Voaram mais de duas horas e a Princesa ficou toda despenteada. Quando chegaram ao Castelo, doía-lhe a barriga de tanto rir. De repente pôs-se muito séria e disse:

– Querida Agripina, eu achava que tudo era perfeito mas hoje foi o melhor dia da minha vida. Nunca me tinha sentido assim, feliz e alegre! Eu quero continuar a fazer tudo bem mas gostava que visses o que eu faço, gostava de te contar… Olha, até gostava que visses o bolo feioso que eu fiz… Ah ah ah!

– Querida Princesa Alteza, tudo o que temos e sabemos só vale a pena se for vivido com alguém que nos ama. E afinal, ainda bem que não conseguiu fazer os bolinhos, hein…?

 

Catarina Almeida