Há um abraço que regenera a vida – Que silêncio! Que silêncio! – murmurava Oriana. – Vê-se bem que os meus amigos pássaros fugiram. Ai como eu estou sozinha! Ai como eu estou cansada! Não sei para onde hei-de ir e não posso dar mais um passo. E dizendo isto Oriana encostou a cabeça ao tronco de uma árvore e começou a chorar. (…) Então a árvore baixou-se e, com os seus ramos, pegou nela ao colo. Cobriu-a com a sua folhagem e pôs duas folhas sobre os seus olhos. E Oriana adormeceu. Era manhã alta quando acordou. Mil raios de sol atravessavam a floresta. Oriana viu o céu azul através das folhas verdes. Espreguiçou-se, respirando fundo os perfumes da terra. Sentiu-se cheia de alegria por tudo ser tão bonito. in A Fada Oriana, Sophia de Mello Breyner Andresen Oriana voltou à sua floresta. Desde que tinha ido para a cidade que todos os encontros faziam vir ao de cima o erro, o mal e a fraqueza de Oriana: a mulher do lenhador, a mulher do moleiro, o Poeta… Todos a recordavam que ela tinha abandonado os amigos e as consequências que isso tinha trazido às suas vidas. O peso do erro estava a tornar-se insuportável e o encontro com o Poeta tinha sido a gota de água… Oriana não sabia para onde ir e era incapaz de dar mais um passo. Encostou a cabeça ao tronco e começou a chorar. A árvore abraçou-a e Oriana adormeceu. No dia seguinte, quando acordou voltou a sentir-se cheia de alegria ao ver tudo tão bonito. Este encontro com a árvore antecipa o final da história. Assumir uma missão, olhar para a vida como tarefa é uma aventura incrível só que, por vezes, esquecemo-nos… Em A Fada Oriana, é o esquecimento que traz o mal, a desorientação e a incapacidade de dar mais um passo. No entanto, Sophia sabe que há um abraço que regenera a vida e quis representá-lo com a árvore. Oriana chora, adormece e, quando acorda, ainda envolvida pelos ramos, volta a ver que tudo é muito bonito. Este é o imenso desafio que Sophia oferece com A Fada Oriana: a necessidade de permanecer ligados à floresta é um ponto vital; e, mesmo nos momentos de esquecimento, de afastamento, de negligência, é preciso voltar à floresta onde há sempre uma árvore – com ramos, folhas e, sobretudo, raízes – com quem podemos chorar e cujo abraço é tão potente que nos faz outra vez ver os raios de sol que atravessam a floresta… Catarina Almeida