Hoje a vigília é nossa Pai, foste cavaleiro. Hoje a vigília é nossa. Dá-nos o exemplo inteiro E a tua inteira força! Dá, contra a hora em que, errada, Novos infiéis vençam, A bênção como espada, A espada como bênção! Estamos diante de um país desolado: procuramos culpados, apuramos responsáveis, ajudamos os feridos, rezamos pelos mortos e pelas suas famílias. O pedido de Fernando Pessoa é claro: queremos exemplos e queremos força; queremos alguém que caminhe, que possamos seguir e queremos força para fazer o caminho, tão tortuoso e tão difícil. Nesta hora “errada” em que vencem, tantas vezes, a dor e o sofrimento, o poeta pede a “bênção como espada, a espada como bênção”. Sem querer ceder à instintividade de ter sempre a coisa certa para dizer às crianças, é inevitável pensar o que temos de mais verdadeiro para afirmar como cidadãos, como pessoas. Como se fala aos miúdos deste drama que estamos a atravessar? Vem em nosso auxílio uma lúcida sabedoria. É uma bênção ter espada, isto é, ter instrumentos para batalhar, como aqueles que sem hesitar correm a ajudar, a dar o seu tempo, os seus bens, as suas “espadas”. Mas é uma “espada como bênção” porque é em momentos como este que nos recordamos com maior clareza que tudo é dado, a começar pela própria vida. Com as crianças, desejamos afirmar esta consciência, de uma vida vivida em vigília, arriscando as nossas espadas para agradecer tudo o que temos e pedir as bênçãos que desejamos. Catarina Almeida