Isto é para mim!

O meu sobrinho – que, logicamente, é a criança mais querida e inteligente do mundo – tem um ano e meio. A minha mãe e eu preparávamos o território para seduzir o contentamento dele à medida que recebia os nossos presentes. Eu já sabia que não tinha hipóteses de ganhar esta batalha: o embrulho da minha mãe era gigante e, mesmo sem saber o conteúdo, conheço a autora, amplamente doutorada nesta matéria…

O miúdo abriu o embrulho espetacular que a avó tinha feito com aquela atitude esfuziante de “isto é para mim!”, aquela consciência que nós, adultos, vamos perdendo sobre a vida e que nos leva às lágrimas quando a recuperamos.

Ele não sabia o que estava lá dentro; sabia apenas que era para ele, que a avó tinha comprado para ele. Para ele.

E eis que do amontoado de papéis sai um maravilhoso comboio com cores, música e cenas. Espetacular.

Terminado este número, era a minha vez. Olhei para ele, no auge da sua alegria, dono e senhor do comboio que agora era dele, a vontade de alguém para ele tinha-se tornado sua própria e era hora de descobrir que mistérios encerrava aquele SEU comboio?

Com o meu embrulho na mão, quase tão maravilhoso como o anterior, cruzei os olhos com a minha mãe que, amorosa, disse:

– Olha mais presentes!

Eu ri-me e disse que talvez fosse melhor ele aproveitar o presente que acabou de receber, em vez de entrar na esquizofrenia de receber mais mil coisas. Haveria tempo para dar o meu presente.

– Tens razão, ele está feliz com um só brinquedo. Somos nós que nos esquecemos, que queremos muitas coisas. Mas uma chega.

E assim, com a sua simplicidade, a minha mãezinha me lembrou que a liberdade não tem a ver com escolher o que nós queremos, mas sim de escolher aquele brinquedo que alguém pensou para nós. Por amor, para nós.

Catarina Almeida