Liberdade é saber escolher

Costumamos dizer que se educa com testemunhos, com modelos. É mesmo verdade. Mas o que será isso, como podemos ser bons modelos para os miúdos, cheios da nossa impaciência e da nossa incapacidade?
Da professora Odete recordo as costas direitas e a voz segura. Ditados, problemas de matemática, uma brincadeira no recreio ou uma Ave Maria no dia 13 de Maio, os olhos miudinhos eram sinal de uma vontade de fazer tudo, de nos ensinar mais e mais coisas entusiasmantes.
Dos meus pais, tios e avós lembro e vivo ainda, graças a Deus, a alegria de estar juntos, de almoçar e jantar juntos, de estar sempre juntos. Não me lembro de lhes ouvir uma palavra desagradável de uns sobre os outros, nem sequer um murmúrio mesquinho.
Será que a professora Odete nunca esteve maldisposta? 
Será que a minha família é perfeita e nunca perdeu a (com)postura?
Duvido. Aliás, se puxar bem pelas memórias, há de haver recordações mais escondidas, prontas a destruir a minha imagem idílica dos adultos que me fizeram crescer…
Quando dou por mim bloqueada nos meus limites e na minha incoerência, lembro-me da professora Odete e da minha família. Teria que fazer um exercício rebuscado para elencar os momentos de mau exemplo que foram para mim embora, certamente, eles existam. Alivia-me pensar que os seus limites e incoerências não são a primeira coisa que recordo deles. 
A coisa mais importante que me ofereceram os adultos foi uma maneira de viver. Essa postura, essa atitude que estava diante dos meus olhos foi-se plasmando devagarinho em mim; à medida que a consciência cresce, vejo que herdei tantas maravilhas, que as escolhi para mim. Há outras coisas que decidi não escolher: herdei-as, também, mas não as escolhi.
Para escolher bem, para que as maneiras de viver dos nossos filhos e alunos passem no crivo da sua própria liberdade, que se vai formando à medida que crescem, tenho a certeza que recordarão de nós a modalidade com que enfrentamos os dias, as alegrias e as dificuldades. 
Mais do que as nossas pequenas grandezas, desejo oferecer aos miúdos uma vida que procura as coisas boas e verdadeiras porque a liberdade é isso mesmo, uma contínua tensão para escolher o bem e a verdade. 

“Liberdade não é seguir o nosso impulso espontâneo, a nossa fantasia, mas saber escolher.” (Maria Ulrich)

Catarina Almeida