Manifesto FMU 2023/24

Parece-nos que justamente esse maravilhoso progresso científico, cultural e social a que assistimos, exige cada vez mais a participação de todos nós numa atitude consciente, de horizontes alargados, de responsabilidade e de ideal – sob pena de gerar meros “robots” e de ver realizar-se, ao nível da humanidade civilizada, a lenda do aprendiz de feiticeiro.

Maria Ulrich

1. O maravilhoso progresso científico, cultural e social.

No início de mais um ciclo de atividades, ao retomar os trabalhos nas áreas da educação, formação e cultura, somos sempre desafiados pelo realismo e vanguardismo que Maria Ulrich nos revela.

Há cerca de quarenta anos, colocava a tónica da sua reflexão nos avanços e desenvolvimentos que a ciência trazia e no seu impacto na cultura e na sociedade. Afirmava-os como maravilha, sem duvidar da positividade do progresso. Reler esta frase hoje, nos tempos da inteligência artificial e das infinitas possibilidades de substituição da ação da pessoa pela ação da máquina, obriga-nos a centrar o foco no adjetivo: maravilhoso.

Na sua origem latina, maravilha significa mirabilia, coisa admirável, que causa espanto por ser extraordinária. O caminho deste ano terá seguramente de passar por aqui: só existe maravilha se alguém se maravilhar. A maravilha, o espanto e a surpresa acontecem unicamente no sujeito que se relaciona com o que vê, o que transforma, o que faz nascer das suas mãos, do seu empenho e da sua inteligência.

É este, então, o primeiro compromisso que a FMU assume para o ano que começa: dar a conhecer os contributos de pessoas reais e concretas para o progresso de uma sociedade desejosa de se espantar. Professores, educadores, formadores, famílias, pais e avós, mas também escritores, artistas e empresários… seria muito longa a lista daqueles que reconhecem e colaboram num progresso realmente maravilhoso, porque destinado a interpelar o coração do homem, na sua realização pessoal e comunitária mais plena.

2. A participação de todos nós.

A pessoa cresce e realiza-se em comunidade: na família, na escola, no trabalho, nas amizades e nas realidades onde se empenha. A participação de todos, todos, todos, recorrendo à expressão do Papa Francisco, recorda a razão de um diálogo mais aberto, dentro de uma identidade mais esclarecida: na participação de todos, cada um tem a oportunidade de aprofundar mais quem é e o que deseja para si e para os outros, num caminho de aperfeiçoamento permanente. Dizemos todos, todos, todos porque no man is an Island e só a consciência de que o outro é um bem para mim permite percorrer o caminho de aperfeiçoamento permanente que edifica a pessoa e a sociedade.

3. Uma atitude consciente, de horizontes alargados, de responsabilidade e de ideal.

Vivemos numa circunstância histórica em que muitos se deparam com a dificuldade de desfazer tantos feitiços como na famosa lenda. A superficialidade da reflexão antropológica, num tempo de desafios éticos e morais nunca vistos, deixa entrever a comparação do aprendiz de feiticeiro, que faz o feitiço porque é fácil e possível, sem se preocupar com as consequências do seu gesto. Porque é fácil e possível, é bom? É justo? É verdadeiro? É belo?

Todas estas perguntas caracterizam a tal atitude consciente de que fala Maria Ulrich.

É na esteira de uma contínua promoção de horizontes alargados, que se contribui para a responsabilidade e para a responsabilização, convocando todos a um Ideal que possa realmente gerar mirabilia.

Em conclusão, a Fundação Maria Ulrich deseja um excelente 2023/24 e apresenta este Manifesto como introdução às atividades que desenvolverá ao longo do ciclo de atividades, para fomentar e favorecer a experiência de maravilhamento que pode ajudar a pessoa e a comunidade a progredir.