Nada de especial, por Catarina Almeida [blockquote author=”” link=”” target=”_blank”] Para educar é preciso procurar integrar a linguagem da cabeça com a linguagem do coração e com a linguagem das mãos. Que um aluno pense sobre o que sente e o que faz, que sinta o que pensa e o que faz, que faça o que sente e o que pensa. Integração total. [/blockquote] O Papa Francisco voltou a usar esta belíssima imagem para ajudar os educadores e pôr-nos imediatamente a caminho… Que linguagens são estas? Como se faz esta integração total? Ora bem… No outro dia, uma professora propôs uma excelente ideia para desafiar os petizes a realizar pequenas tarefas em prol dos outros, que os responsabilizasse uns pelos outros com acções decididas por nós antecipadamente e entregues diariamente para ser cumpridas. Sem coação, claro! Parecia uma boa ideia. Mas pusemo-nos a pensar… Será que a nossa proposta de “boas acções” muda realmente o coração dos miúdos? Que caminho devemos escolher para fomentar estas linguagens, a do coração – que se alarga!, a das mãos – que se empenha!, a da cabeça, que toma consciência das razões…? Neste divertido exercício, reparámos que a nossa preocupação estava em pôr as crianças a “produzir um bem” exterior a elas, que nós consideramos importante. E isso não tem nada de mal. Mas qual é o verdadeiro bem? O que poderá realmente interpelar os corações e as pequenas consciências das crianças? O que é que faz crescer? Rapidamente percebemos que é importante “fazer”, que é importante “pensar”, que é importante “sentir” e que estas três coisas andam bem quando andam juntas. Mas tudo isso se torna grandeza humana, antes de mais, quando é posta ao serviço do dia-a-dia, que não tem nada de especial a não ser existir. O novo dia que nos espera não tem nada de especial, a não ser os mesmos amigos na sala, a mesma cadeira e os mesmos livros. Que distracção se pode tornar o “fazer”, o “pensar” e o “sentir” se não estiver todo em relação com as coisas que nos são postas à frente como dons. Dons silenciosos, quase misteriosos, mas ali colocados para nós. Os cadernos, os livros, as cadeiras, os amigos… Para nós. O ponto fundamental é a gratidão ao perceber que tudo é um dom porque faz com que nos cuidemos de tudo, até dos nossos amigos, sem esforço, sem que isto seja uma tarefa imposta pelos adultos. Para responder ao desafio lançado pelo Papa de reconstruir o pacto educativo, penso que o nosso maior contributo é usar estas linguagens como criatividade diante das pequenas coisas do dia-a-dia. Quem sabe, talvez convidar as crianças a escrever a data e o nome todos os dias com caligrafia bonita…? Aliás, o maior contributo é que cada um de nós comece por escrever a data no quadro, a data mais bonita do mundo, e que as crianças possam ver-nos inteiros, totalmente integrados, nos gestos simples. Um dia, depois outro dia, e outro dia ainda. Catarina Almeida