Ninguém sabe que coisa quer

Ninguém sabe que coisa quer.

Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ânsia distante perto chora?)

Mensagem, Fernando Pessoa

 

Se pensarmos nos nossos miúdos, eis um belo diagnóstico… Não sabem o que querem, não conhecem a alma que têm, não sabem o que é mal nem o que é bem.

Não sabem o que querem. Que é como quem diz, não os habituamos a fazer escolhas, a comprometer-se, a permanecer (com sacrifícios…!). Decidimos por eles e, por isso, normalmente não precisam de querer porque está tudo pronto e disponível. Estará?

Não conhecem a alma que têm. Num mundo onde os adultos fogem continuamente às suas perguntas, às manifestações incómodas da “alma que têm”, quem os ajuda a conhecer o coração que têm?

E, claro, sem liberdade e sem coração, não sabem o que é mal nem o que é bem. Será verdade?

Não, não é verdade porque a “ânsia distante” quando está “perto chora”. Perto de quê?

Se pensarmos em nós, o diagnóstico clarifica-se… Quando é que sabemos o que queremos? Quando é que conhecemos a alma que temos? Quando é que sabemos o que é mal e o que é bem?

A verdade é que choramos perto das coisas que parecem responder à ânsia distante que constitui o nosso coração e que nos faz saber muito bem o que queremos, o que é mal e bem, quando nos deixamos ferir pela beleza que existe no mundo, nas pessoas, nas circunstâncias.

Como os meus alunos que ontem foram ao Mosteiro dos Jerónimos, quase todos pela primeira vez. Foi um espetáculo de humanidade espantada pela beleza que se oferece abundantemente daquela pérola “à beira mar plantada”.

Voltei para casa completamente certa que para ajudar estes miúdos a crescer é preciso apostar naquela Beleza ordenada e esplendorosa que é capaz de chegar ao coração deles e pô-los a correr connosco em direção ao Bem.

Catarina Almeida