Nunca o tinha visto assim O Tomás tem dificuldade em escrever, construir frases, principalmente em situações de teste, porque fica muito nervoso. Quando acabámos de reler e corrigir juntos a história que tinha escrito no último teste de português, sobre um valente cavaleiro, tive de pensar em mais alguma coisa para fazermos, que o ajudasse a treinar. O nosso pequeno autor não estava muito confiante. Fizemos um jogo. Eu contava o tempo, escolhia uma imagem e o Tomás escrevia sobre ela. Pensei num dos meus quadros preferidos e não estava à espera que ele o conhecesse. Olhando para a imagem, todo contente, disse: – “Isso são Os primeiros passos, de Van Gogh!” E começou logo a escrever uma história que começava assim: “Ainda me lembro da casa dos meus pais, onde dei os meus primeiros passos (…)”. Depois de uns largos minutos, vi que o tempo do jogo tinha acabado, mas o nosso amigo estava mesmo concentrado a escrever. Nunca o tinha visto assim. Então, sem dizer nada, deixei-o continuar. Quando acabou, levantou a cabeça e olhou em volta, como quem acorda do mundo em que estava imerso. Aquilo que me entusiasma entusiasmou-o também, sem nenhum discurso nem teoria. Olhou para o que tinha feito, olhou para mim, e sorriu. Constança Duarte