O cofre está vazio, por Catarina Almeida

– No meu tempo isto, no meu tempo aquilo…

– Antigamente não era assim…

– Os miúdos hoje em dia…

– Se isto fosse no tempo dos meus avós…

Estas e outras frases são comuns nas conversas mais ou menos sérias que dominam os nossos dias, com as justas preocupações de quem lida com crianças e jovens. Como protegê-los da violência? Como transmitir as noções de bem e mal num mundo tão turvo e confuso? Como dar-lhes ferramentas para enfrentar a vida? Como acompanhá-los sem os proteger demasiado mas também sem lhes largar a mão e o coração?…

O mundo contemporâneo está em transformação contínua, vendo-se agitado por variadas crises. Vivemos uma mudança epocal: uma metamorfose não só cultural mas também antropológica, que gera novas linguagens e descarta, sem discernimento, os paradigmas recebidos da história.  

A frase faz parte da Mensagem para o Lançamento para o Pacto Educativo. O Papa Francisco convocou todos os que trabalham em educação a juntar-se para fazer um caminho até a um encontro mundial no dia 14 de Maio 2020, com o tema “Reconstruir o Pacto Educativo Global”. Para quê? Para reconstruir a aliança educativa, o compromisso com as novas gerações.

O ponto de partida é duro. O nosso mundo mudou. Não está a passar por mudanças, já mudou. É outro, é diferente. Passou por uma metamorfose e já não reconhece as premissas e os critérios que orientaram gerações e gerações de homens e mulheres. A modernidade descartou, deitou fora e inutilizou a tradição recebida, como quem esvazia um cofre de jóias e valores recebidos da família.

O cofre está vazio, as jóias estão no lixo. A nossa herança está nos contentores. O que sobra então? 

Esta metamorfose, esta nova época abre as portas a uma esperança nova ou roubaram-nos realmente o futuro, o nosso e o dos nossos filhos, como se tem ouvido incessantemente em discursos mais ou menos manipulados – e manipuladores?

Não, não nos roubaram o futuro porque ninguém o pode fazer. Talvez o tenham mascarado com ideologias, talvez o tempo e o espaço se tenham tornado mais confusos, talvez as relações se tenham feito mais complexas. Talvez tudo isto seja necessário para recuperar o meu valor e o teu valor, para descobrir quem somos verdadeiramente. 

É isto mesmo que o Papa propõe: uma caminhada educativa, possível e desejável apenas porque o cristianismo é a experiência inabalável de um Amor que se oferece por ti, porque tu tens um valor infinito, que não pode ser roubado nem aniquilado.

Nós faremos esse caminho com o Papa e convidamos todos os educadores a juntarem-se a nós em modalidades que divulgaremos em breve.

Catarina Almeida