O custo da presença, por Catarina Almeida

Numa reunião de organização de tarefas e de responsabilidades, a discussão animou. Nas escolas, é (quase) sempre divertido discutir, porque nos pomos tendencialmente à procura de pistas úteis e esclarecedoras para as crianças e as famílias.

Quem está presente no acolhimento e no fim da tarde à porta?

Quem lança a aventura da semana, através de uma história, de um jogo, de uma canção?

Quem acompanha as saídas e os passeios?

E as respostas eram sempre as mesmas: eu, eu, eu, eu. Todas. Todas as coordenadoras, professoras, educadoras e diretoras queriam genuinamente estar presentes em todos os momentos significativos da vida da escola.

O burburinho surgiu quando uma analista mais aguda afirmou sem rodeios:

– Pois, mas se todas estão em todo o lado, isso tem um custo.

É evidente que ela tem razão. E também é evidente que, como adultos que trabalham juntos, é fundamental delegar, partilhar tarefas e responsabilidades e aprender a assumir um protagonismo que testemunhe sempre unidade de critério e de juízo.

No entanto, devo confessar que exultei de alegria quando reparei que o ponto de partida existencial consiste em viver todas as circunstâncias na primeira pessoa, desejosas de as propor e atravessar com as crianças, numa verdadeira companhia humana.

Ao começar mais um ano letivo, foi uma graça poder recordar-me que a educação vivida como possibilidade comunitária de amizade entre os mais velhos e os mais novos tem um custo. É o custo da presença. E é um custo que não queremos poupar.

Estou certa de que é preciso reinventar estruturas e funções capazes de trazer eficácia e agilidade às nossas escolas, mas gostaria de desafiar todos os educadores, pais e professores – sobretudo neste tempos… – a permanecer firmes na certeza que só uma vida partilhada com alegria pode trazer um significado às crianças e aos jovens.

Catarina Almeida