O problema é a liberdade, por Catarina Almeida Há aqui qualquer coisa, estamos a observar alguma coisa que nunca observámos… Foi a intuição de Josslyn Bell Burnell que inspirou o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, no encerramento do encontro “Gerações Cruzadas”, no passado dia 9 de março, na UCCLA. No dia do nascimento de Maria Ulrich, mulher sempre capaz de cruzar gerações de forma positiva, os mais de oitenta participantes puderam também observar qualquer coisa, mas que – desta feita – não é nova. Aprendemo-lo com Maria Ulrich: o diálogo, como desejo de encontro com o outro, torna-se lugar de cultura e de educação, como sublinhou Rui Corrêa d’Oliveira, Presidente da Fundação Maria Ulrich, no discurso de abertura. Teresa Ricou, amiga de longa data da Maria e da sua fundação, testemunhou-o em palavras e em ação. Em palavras, recordando o impulso e a confiança da amiga mais velha. “Segue o teu caminho” – foi assim que Maria Ulrich a ensinou a confiar no seu desejo de educar os mais fragilizados através da beleza da arte e do circo. Em ação, porque a Teté (como é mais comummente conhecida) faz o mesmo todos os dias. Na conversa com Amina Bawa transpareceu o grande legado de Maria Ulrich: uma amizade que é vida partilhada e se estende de uns para os outros, de geração em geração. O encontro entre gerações e a importância da diversidade entre homens e mulheres nas empresas e na organização do tecido social foi o tema escolhido por duas admiradoras confessas da garra de Maria Ulrich, uma mulher “muito à frente do seu tempo”. Duas mulheres inteiras, mães, profissionais, construtoras de um lugar onde todos têm um contributo necessário, Isabel Vaz e Sofia Galego Dias trouxeram a sua reflexão consistente sobre o valor – até económico! – da diversidade de olhares, de idades e sensibilidades. Por fim, a moderadora Raquel Abecasis chamou ao palco os últimos conversadores, sob o mote das mudanças em curso. Professores universitários, homens de ciência e de educação, Eduardo Marçal Grilo e Daniel Traça confessaram o seu desejo de redescobrir um mundo cheio de novidade e de imprevisibilidade. Nunca imaginámos que a imprevisibilidade fosse tão grande. Mudaram os desafios, mudaram os problemas, o que é que permanece e como é possível educar num mundo em rápida mudança? O que aconteceu naquele fim de tarde foi um encontro verdadeiro entre homens e mulheres cultos, inteligentes e empenhados em debater o presente e o futuro, a partir das suas perguntas genuínas, das suas inquietações e reflexões. As pistas finais deixam entrever um trabalho profundo e entusiasmante para os próximos meses na Fundação Maria Ulrich, marcado pelo tema da liberdade. Sete oradores de peso, com percursos tão diferentes, concordaram na conclusão. O problema é a liberdade. Como educar para a liberdade? Como oferecer uma liberdade autêntica e uma abertura a tudo o que é humano e que nos aproxima uns dos outros? Já o tínhamos antecipado no Manifesto FMU 2021/22: fazer crescer a liberdade das crianças e dos jovens, eis a vibração fascinante da nossa missão. Vale a pena ver e rever o encontro aqui! Catarina Almeida