O que é que é bom?

Em conversa com uma amiga que é também uma grande educadora, tivemos um ataque de riso com aquilo a que chamámos uma expressão proibida nos cursos de educação e ensino… Enquanto discutíamos sobre métodos pedagógicos, de ensino-aprendizagem, saiu-me a velha máxima:

– Olha, o melhor método é “avaliai tudo e ficai com o que é bom”!

De repente, a minha amiga pôs-se muito séria – antes do ataque de riso – e lembrou-se que uma frase destas no tempo da faculdade dava direito a uma bela discussão. Por que motivo?

Um método que não é uma receita. No fundo, até percebo que se procure sistematizar as boas práticas e torná-las intencionais; até percebo que se procure identificar critérios, indicadores e instrumentos adequados à tarefa de educar e ensinar. A armadilha está em confundir método com receita da Bimby, que prevê temperaturas e quantidades com uma precisão tal que a consistência do bolo não pode falhar… Ora, a questão verdadeira é que estas tendências reduzem a pessoa a competências e capacidades. Aquelas coisas que se forem treinadas e aplicadas assim e assado, têm resultados assim e assado. Esquecemo-nos, porém, que a questão não está nos resultados, nem nas capacidades, nem em competências instrumentais para um fim desligado de ser pessoa. Somos feitos para descobrir os significados das coisas que existem, para descobrir o que satisfaz o nosso coração, para descobrir o que nos realiza. Para que isto aconteça, não basta ser competente nas dimensões x, y e w; não basta ser capaz de fazer isto ou aquilo; a educação não se pode reduzir a isto porque estaria a perder o melhor…

O que é que é bom? Avaliai tudo e ficai com o que podemos reconhecer como bom, como verdadeiro, como justo, como belo, como valioso. Existe algo de real e objectivamente positivo, que vale a pena descobrir, aprofundar e oferecer às novas gerações, para que vivam neste mundo e possam ser realmente felizes?

Uma vez, numa conferência na universidade, referi o conhecimento como fonte de felicidade. Houve indignação, porque falar de felicidade em educação é absurdo, é enganador, porque não a podemos “garantir” cientificamente.

Ontem, em conversa com a minha amiga, voltámos ao tema. Desta vez, não houve indignação porque sabemos que só vale a pena ensinar e educar porque descobrimos continuamente aquilo que é bom e que queremos contar aos nossos filhos e alunos. Aquilo que nos faz felizes, a nós e aos nossos filhos.

 

Catarina Almeida