O que sobressaía era o Ser

 

 

Das três condições exigidas – ser, saber, saber fazer -, o que sobressaía era o Ser.

 

Maria Ulrich, 1988

“O que sobressaía era o Ser”. Com esta frase proferida na última entrevista que deu, Maria Ulrich indica o método por si escolhido, o mote para a obra educativa que desenvolveu de forma transversal ao longo da sua vida.

No nosso tempo, o critério mantém-se actual numa época em que o “saber” e o “saber fazer” tomaram a dianteira e correm desenfreadamente sem destino…

As famílias e as escolas debatem-se diariamente com grandes dificuldades na educação das crianças e dos jovens: a falta de tempo, a insegurança, os desafios das tecnologias, as exigências laborais, a competição, a desorientação…

O cenário poderia parecer desanimador… Não fosse verdade o que diz Maria Ulrich: é possível fazer um caminho, é possível deixar sobressair o Ser.

Para oferecer às suas alunas e amigas um ideal educativo, uma vida mais alegre e realizada, quis acompanhá-las no encontro consigo mesmas, com o seu ser, que lhes permitiria saber e saber fazer de forma criativa e responsável. Zangava-se quando lhe diziam que o horizonte educativo era desenvolver as potencialidades da criança porque «[lhes faltava] sempre o essencial, o tal “invisível”, que é o que importa: a construção interior assente naquela escala de Valores que se aprende a “apreciar” afectivamente na infância, que se vai consciencializando à medida que crescemos e em que baseamos todo o nosso comportamento, a nossa maneira de ser e de reagir. Viver é escolher. Escolhemos de acordo com os nossos Valores». (Maria Ulrich, 1988)

Na sua vida e nas suas obras, Maria Ulrich escolheu de acordo com os seus valores. Não se pense nos valores num sentido apenas ético ou moral, nem sequer religioso; os valores que se estimam na infância e que passam no crivo da nossa experiência, estão realmente na base da nossa “maneira de ser e de reagir”. Os valores são aqueles que “valem”, que têm valor, aquelas coisas preciosas que queremos guardar no cofre, para nos certificar que poderemos oferecer aos nossos filhos e netos porque viverão mais felizes enquanto os possuírem, quando forem seus.

Neste ano lectivo que agora começa, as actividades da FMU têm como objectivo pôr em evidência e aprofundar esta busca pelo Ser. Deixar sobressair o Ser, encontrar o que tem realmente valor na nossa vida, ao ponto de querermos conservar cuidadosamente e não deixar que se perca nem pereça, para que as novas gerações possam “saber” e “saber fazer”.

 

Catarina Almeida