O silêncio dos inocentes, por José Feitor

Meus senhores, é verdade: precisamos de silêncio.

Estes dias tenho tomado o pequeno-almoço com a janela da cozinha aberta. Seria extraordinário se a vista não fosse diretamente para o prédio da frente, mas porque além de conseguir apanhar um pouco de ar fresco, também consigo ouvir sons que desconhecia existirem na minha rua. Há um bando de pássaros que, diariamente, se digladiam por um pequeno espaço no ramo da árvore. Um deles faz-me lembrar o famoso pássaro dos Hunger Games, um mimo-gaio que imita os sons reproduzidos por humanos.

Rapidamente me apercebo da quantidade de vezes que ao longo da vida precisei de silêncio e como agora, nesse mesmo silêncio, me apetece gritar. Nunca estamos contentes com o que temos. A verdade é que tantas foram as vezes que me falaram do silêncio (ressoa uma frase de uma amiga que dizia que só consegue apreciar boa música quem sabe apreciar o silêncio) e só agora me apercebo do quanto o silêncio ajuda ao equilíbrio.

Quantas vezes, nas aulas, pedimos silêncio, nos pedem silêncio, fazemos tarefas em silêncio, ajudamos a manter o silêncio… Estou mesmo convencido que fazer silêncio deve mesmo ser importante, tantas são as vezes que o pedimos. Mas será que lhe damos a verdadeira importância? Assumo já que, na minha realidade, não me parece que o tenha feito.

É impossível aprender alguma coisa sem silêncio, seja ele interno ou externo. Vem-me à cabeça a imagem de uma sala de aula como um estendal de roupa. Todas as peças direitas, alinhadas, imaculadamente presas com as molas… Mas há sempre umas peças que saem do padrão e insistentemente, se abanam de forma desordenada, sobrepondo-se por cima das outras, no fundo, deixam-se ir ao sabor do vento. Essas peças são as interferências que surgem na relação: ou porque não explicamos, ou porque não ouvimos, ou porque estamos em silêncio exterior mas o interior está ao sabor do vento… É imperativo aprender (e ensinar) o valor do silêncio. No fundo, semelhante ao que a minha amiga dizia, só pode aprender a falar quem aprende a estar calado.

É este o desafio que vos deixo esta semana. Aprender a ouvir o silêncio que existe à nossa volta para que, com ele, aprendamos a falar nos momentos certos.

José Feitor