Onde estão as fotografias, por Catarina Almeida Cheguei à sala e estava uma criança de três anos a brincar com uma máquina fotográfica antiga. Abria e fechava o sítio do rolo, espreitava pela janelinha, experimentava carregar no botão encarnado e… não acontecia nada. Pus-me a brincar com o miúdo, fiz poses para o retrato e lá lhe perguntei: – João, onde estão as fotografias? – Não sei! Deviam estar aqui dentro… Começou a ficar impaciente… Ajude-me! Abria e fechava o sítio do rolo e olhava para mim à espera de uma palavra esclarecedora…. – Onde estão as fotografias? Lá lhe expliquei que antigamente, quando eu era pequenina, as fotografias não se tiravam no telefone mas sim em máquinas como aquela. E que não podíamos ver logo as fotografias porque ficavam guardadas, como se fosse um desenho, num rolo especial que era “revelado” por pessoas com umas ferramentas especiais. Ele ficou mais sossegado mas eu não. Fiquei a pensar que quando eu tinha três anos, também perguntei a alguém o que eram aquelas máquinas gigantes com um senhor lá dentro, que se tapava com um pano preto. E alguém me explicou que era uma máquina para tirar fotografias. Alguém me contou como funcionava. Não fiquei sossegada porque gostava de gritar aos sete ventos que não podemos abandonar os miúdos. O fascínio pela curiosidade, pelos trabalhos de projecto, pela descoberta a partir das perguntas tem um potencial incrível de crescimento para as crianças, na medida em elas viverem relações de autoridade verdadeira, isto é, relações com adultos que os acompanham e que lhes revelam as fotografias que eles não vêem e não teriam maneira de ver. Pode uma criança crescer feliz se for curiosa, cientista, empreendedora, cheia de das competências do século XXI e XXII mas sem adultos, sem pais, sem tios, sem uma relação de autoridade positiva, viva e actual? O problema não é que as máquinas fotográficas mudem. Por muito que o mundo mude, o desafio continuará a ser ter alguém a quem perguntar onde estão as fotografias? Catarina Almeida