O que faz falta? Qualquer pessoa que trabalhe numa escola ou tenha alguma ligação com o mundo da educação sabe que andamos sempre a ver o que faz falta. O que faz falta nas políticas educativas? O que faz falta na formação de professores? O que faz falta para ajudar as famílias? O que faz falta às crianças? Hoje descobri a resposta: “o que faz falta é animar a malta”! Animar, por o ânimo, o coração a funcionar, o coração a desejar. Muito se discute se é preciso ensinar mais competências ou mais conteúdos, promover actividades mais estruturadas ou mais livres, ensinar a apontar países no mapa ou a saltar à corda no 2º ano. Pois eu acho que sem saber o que desejamos realmente, sem saber o que queremos para nós (e para os miúdos!), tudo isso é uma discussão relativamente inútil. Estamos muito dedicados a educar pequenas pessoas competentes e sabichonas e negligenciamos a geração de “eus”, de pessoas inteiras, que amem a vida, que encontrem os outros e o mundo com abertura e positividade e, dentro de relações consistentes, possam interrogar a vida, estar à altura das perguntas sem ter a pressa das respostas que nos protegem da vida. O verdadeira problema está em dar respostas e ferramentas, conteúdos ou competências que sejam, sem suscitar primeiro aquele terreno fértil de humanidade que se chama desejo. Esta dimensão que caracteriza todos os homens e mulheres, de todas as culturas e que se constitui como pergunta sobre as coisas: como nasceram as estrelas, como crescem as flores, como terá sido a viagem de Vasco da Gama, como pesar três laranjas…? Por onde começar? Por nós próprios, tantas vezes focados em responder aos outros e tão poucas vezes atentos às nossas perguntas. Ralados com o coração dos outros e pouco protagonistas da nossa vida, nem reparamos que os miúdos vibram de humanidade que deseja, que pergunta, que pede. Vida. Uma febre de vida, é o que nos faz falta, para animar a malta. Catarina Almeida