Ordinary Magic

Há umas semanas ouvi este termo numa formação em que os oradores falavam em ordinary magic como um dos principais motores para desenvolver a resiliência nas crianças. Achei interessante esta perspectiva de que através de coisas pequenas, ao alcance de todos no dia-a-dia, se consiga chegar a este grande objectivo.

A resiliência não é tanto uma característica fixa numa pessoa mas antes uma qualidade que se pode manifestar quando o apoio certo, na altura certa, ajuda a superar o impacto da adversidade. Isso não significa que esse apoio seja dado apenas em situações pontuais onde é evidente que a criança ou o adolescente precise de ajuda. Num extremo oposto, caímos por vezes no erro de tentar dar grandes lições do tipo “agora vais aprender com os teus erros” ou “tudo tem uma consequência” em coisas completamente banais como quando o prato de sopa cai ao chão durante o jantar ou quando a criança se esqueceu de fazer os trabalhos de casa. É verdade, a pessoa aprende com os erros e de facto, tudo tem uma consequência, mas podemos abordar estas situações de forma diferente de forma a tornar o dia-a-dia mais calmo e a acabar com o chamado “stress dramático”.

Haverá alturas em que as grandes lições virão, em que situações mais complexas acabarão por dar à costa mas não vale a pena estar  constantemente a tentar mostrar que tudo tem uma consequência e que temos que evitar o erro de forma a sermos todos perfeitos. Esta forma de educar não ajuda necessariamente a lidar com a adversidade e torna as crianças inseguras.

“Por vezes basta apenas uma experiência favorável (um sorriso, interesse numa coisa à partida sem grande importância, a estimulação de um talento, o encorajamento de um hobby, querer saber mais sobre uma relação que eles preservam) para ser o ponto de viragem na trajectória da vida de uma criança e no seu desenvolvimento.” (Lemay & Ghazal, 2007)

Durante o encontro em que este tema estava a ser abordado, distribuíram uma banana por cada um dos presentes e pediram-nos para escrever com um marcador qualquer coisa para uma criança com quem temos ligação e a escondêssemos na lancheira de forma a surpreendê-la no dia seguinte.

Escrevi uma mensagem à única filha que tenho na escola, uma coisa tão simples como “Mal posso esperar para passar o fim-de-semana contigo”. Quando a fui buscar ao final do dia veio a correr dizer que não tinha conseguido comer a banana para não estragar o que eu tinha escrito. Estava visivelmente grata por lhe ter feito esta surpresa, muito contente por ser fim-de-semana, contou o dia e mostrou os trabalhos que tinha feito com um entusiasmo fora do comum. De facto surpreendê-la foi mais eficaz para se sentir confiante e dar o seu melhor naquela sexta-feira do que se eu lhe tivesse dito, antes de sair do carro, qualquer coisa como “porta-te bem, está com atenção e faz tudo direitinho se queres ir ao parque no fim-de-semana”.

A casca da banana foi para o lixo mas o que provocou em nós, ficou!

 

Sofia Bilbao