Para habitar a bagunça No início de cada Advento tenho sempre uma ideia mirabolante: e se não fizéssemos Festa de Natal? Tremo da cabeça aos pés a pensar no que aí vem de preparativos, aparato, ensaios, cenários, desarrumação… E perco horas a inventar maneiras de explicar que se calhar é melhor não fazer a Festa, que o Advento é um tempo de espera, de calma, de contemplação harmoniosa do Mistério de Deus… Perco tanto tempo nestes pensamentos que, quando dou por mim, já perdi a oportunidade de concretizar este meu sonho. E ainda bem! É uma bagunça preparar uma escola inteira para a Festa. É uma escola pequenina mas, ainda assim, são 90 miúdos entre 1 e 10 anos e dá um bocadinho de nada de trabalho. Os últimos Adventos que me lembro estiveram sempre cheios dessa bagunça e desse trabalho: pensamos a Festa de uma maneira e, no primeiro ensaio, reparamos que não pode ser isto e aquilo; há sempre uma personagem principal que fica doente e não vem; há sempre um miúdo que vomita as túnicas dos anjos; e mais aquela miúda que faz birra e destrói as coroas dos reis magos… Enfim, factos reais e fictícios mas que ilustram muito bem o meu Advento. E que bom Advento tem sido, este tempo cheio do realismo da vida como ela é. Deus quis fazer-Se carne nesta vida, assim como ela é, cheia de bagunça, cheia de projectos, cheia de pensamentos de como ela devia ser… E Deus entra devagarinho, penetra o cansaço e as limitações da humanidade para ficar lá. Para a habitar, para habitar a bagunça que a nossa vida é, tal e qual é. Podia ter um Advento silencioso e contemplativo? Como diz o outro, “poder podia, mas não era a mesma coisa!”. Catarina Almeida